A reunião de cúpula pedida pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, não seria mesmo capaz de mudar o eixo da Terra na questão da emergência climática. Trouxe alguns avanços em promessas, verdade, e pouco de concreto; ao menos não caminhou para trás.
O objetivo dos EUA era reconquistar liderança no processo. Biden tenta sacudir a modorra em torno do Acordo de Paris (2015) para limitar emissões de carbono e preservar chances de cumprir a meta de não superar 1,5ºC a 2ºC de aquecimento da atmosfera em relação ao período pré-industrial.
A temperatura média do planeta já subiu 1ºC, e na trajetória atual ultrapassará 3ºC até o fim do século, com consequências desastrosas para as populações pobres, o ambiente e a economia mundial. Estima-se que reverter esse quadro e ficar no limite inferior (1,5ºC) implique eliminar emissões até 2050 ou, de preferência, 2040.
Os EUA, que haviam renegado Paris com Donald Trump, ora se comprometem a neutralizar em 2050 o carbono que emitem, 12% do total mundial. Mais ainda, Biden dobrou a meta de redução até 2030 adotada, em 2015, por Barack Obama.
Sucessivas reviravoltas da diplomacia americana, com a alternância de governos republicanos e democratas, inspiram ceticismo. Há, de todo modo, motivos para crer em progresso no país que mais contribuiu, historicamente, para o aquecimento global.
O desafio vem da Ásia. A China, que hoje emite um quarto do carbono planetário, tomou a dianteira no fornecimento de tecnologias verdes e não antagoniza mais os EUA na negociação climática. Na cúpula, prometeu limitar a alta no consumo de carvão mineral até 2025 e reduzi-lo até 2030.
A Índia, responsável por 6,7% das emissões globais, logo atrás da União Europeia (7,5%), caminha a passos largos em energias renováveis, como a solar. Anunciou parceria estratégica com os americanos para tecnologias e financiamento de descarbonização.
Até o presidente Jair Bolsonaro, negacionista contumaz da crise climática, sentiu-se pressionado. Retomou a promessa de zerar o desmatamento ilegal até 2030; só incautos acreditaram. Por aqui, a área segue ameaçada por incerteza orçamentária e, principalmente, aviltamento deliberado da gestão.
Boas ou más intenções à parte, a crise do clima permanece longe de contornada. Uma coisa são compromissos; outra, seu cumprimento. A Agência Internacional de Energia prevê que emissões de carbono subirão 5% em 2021, ao invés de recuar, em plena pandemia.
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