Dois relatórios divulgados nesta semana, um no Brasil e outro nos EUA, apontam uma escalada de ameaças e agressões contra profissionais da imprensa brasileira —não raro com a participação direta do presidente Jair Bolsonaro.
Documento intitulado “Violações à Liberdade de Expressão”, veiculado anualmente pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), mostra que em 2020 casos de violência física, ofensas e intimidações a jornalistas subiram 168% ante 2019.
Somaram-se 150 registros relativos a pelo menos 189 profissionais e veículos de comunicação. A ocorrência mais grave foi o assassinato de Léo Veras, por pistoleiros, em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz fronteira com Ponta Porã (MS). A vítima, que mantinha um site de notícias policiais, já havia sofrido pressões em razão do que publicava. Dos 10 suspeitos do crime, 3 são brasileiros.
A forma mais frequente de ataque detectada são as ofensas. A Abert computou 59 investidas desse tipo contra 68 jornalistas, mais da metade delas de autoria de Bolsonaro e de seus apoiadores.
Dentre os atos ofensivos reunidos estão as deploráveis insinuações de caráter sexual que o mandatário dirigiu à repórter Patrícia Campos Mello, da Folha —que o levaram a ser condenado a indenizá-la por danos morais.
Outro relato que envolve o presidente se refere ao ataque verbal contra um repórter do jornal O Globo que o questionou sobre cheques do ex-assessor Fabrício Queiroz, no valor de R$ 89 mil, enviados à primeira-dama, Michelle. “Minha vontade é eu encher a tua boca de porrada”, foi a resposta.
O relatório anual sobre Direitos Humanos dos EUA, divulgado pelo Departamento de Estado, também menciona esse caso, entre outros ocorridos no Brasil, que é um dos quase 200 países analisados.
O texto registra que “vários jornalistas foram submetidos a agressões verbais” nas famigeradas entrevistas informais promovidas por Bolsonaro com grupos de apoiadores. Tais hostilidades levaram esta Folha e outros veículos jornalísticos a deixar de cobrir os eventos.
Não é incomum que governantes, mesmo em democracias estáveis, tenham rusgas com a imprensa. Tais conflitos tornam-se preocupantes quando se transformam em manifestações de violência e intolerância contra as regras do Estado de Direito. Infelizmente é o que ora se presencia no Brasil.
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