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Nuances da ditadura

Troca de comando em Cuba dá sequência a processo muito moroso de renovação

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O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e o agora aposentado Raúl Castro durante o 8º Congresso do Partido Comunista de Cuba, em Havana - Ariel Ley/AFP

Completou-se nesta semana —de modo lento, gradual e seguro— o processo de transição de Cuba para a era pós-Castro. Na segunda (19), Raúl, que herdara do irmão Fidel o cargo de primeiro-secretário do Partido Comunista, passou o comando para Miguel Díaz-Canel, presidente do país desde 2018.

Embora esperada, a troca de poder não deixa de representar um marco simbólico para a ilha. Pela primeira vez em mais de 60 anos, os cubanos não terão, nos dois principais cargos dirigentes nacionais, o sobrenome Castro.

O 8º Congresso do Partido Comunista selou ainda a renovação da cúpula, com a saída do que restava da envelhecida geração revolucionária que lutou em Sierra Maestra.

A passagem do bastão ocorre num momento de extrema dificuldade do país. A sempre claudicante economia cubana tem sido dilacerada pelos efeitos da pandemia e registrou no ano passado uma retração de nada menos que 11%. A queda foi puxada pelo colapso do setor de turismo, uma das principais fontes da renda nacional.

A emergência sanitária também agravou o desabastecimento crônico de Cuba. Sem conseguir receber produtos de fora, a ilha vem enfrentando uma brutal escassez de artigos de primeira necessidade.

Como se não bastasse, a unificação das duas moedas nacionais, promovida em janeiro pelo regime, provocou uma desvalorização de 2.000% do peso e uma disparada inflacionária.

A mudança no câmbio foi a mais recente de uma série de reformas realizadas nos últimos anos com o fito de trazer dinamismo a um país que vivenciou décadas de fracassado planejamento estatal. Não obstante tais esforços, o progresso em relação ao período castrista ainda se mostra extremamente moroso.

Com Joe Biden na Presidência dos EUA, surge novamente a esperança de que o processo de abertura econômica venha a ganhar velocidade. Recuperar a distensão histórica ocorrida entre os dois países nos anos Obama —de quem Biden foi vice— e reverter as sanções impostas por Donald Trump constituem avanços que certamente favoreceriam esse movimento.

Tudo isso será de pouca valia se não houver disposição de romper com o passado. Espera-se que a defesa de continuidade feita por Díaz-Canel e as promessas de que seguirá ouvindo Raúl sejam antes a deferência a um velho líder do que as diretrizes futuras de seu governo. Para o bem de Cuba e dos cubanos.

editoriais@grupofolha.com.br

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