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O que a Folha pensa inflação

Preços perversos

Inflação elevada no grupo dos alimentos e baixa nos serviços sacrifica pobres

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Supermercado em Santo André (SP) - Rivaldo Gomes/Folhapress

Diz-se que a inflação é o pior dos impostos, pois sempre atinge desproporcionalmente os mais pobres. Mas um processo de alta de preços pode ser ainda mais danoso socialmente se concentrado em itens com alto peso na cesta de consumo popular, em especial num contexto de desemprego elevado.

É o que ocorre agora no Brasil com os aumentos desenfreados nos preços dos alimentos, de quase 18% nos 12 meses encerrados em março. Trata-se de 24% da despesa das famílias com renda até cinco salários mínimos.

Entre os fatores por trás do fenômeno está a disparada das cotações internacionais de grãos, como soja e milho, por causa da demanda mundial. A China importa vorazmente para ração animal, num momento em que recompõe o rebanho de suínos dizimado há dois anos por doenças.

As consequências do encarecimento dos grãos reverberam na cadeia geral de proteína animal. No caso das aves, o maior custo da ração pressionas as margens de lucro dos produtores, que buscam repassar o custo ao varejo.

Levará tempo para que a produção consiga suprir a demanda e recompor estoques. Mesmo as surpresas positivas da safra brasileira de grãos, que deve crescer 6,5% neste ano, são insuficientes para normalizar os preços.

Outro fator crucial para o aumento dos custos domésticos é a escalada da cotação do dólar, próxima de 30% desde o início da pandemia e em parte decorrente da desconfiança geral a respeito da política econômica do governo.

A combinação de fraqueza da moeda nacional e preços internacionais elevados formam a tempestade perfeita, não apenas em alimentos, mas em várias cadeias industriais que assistem a desequilíbrios e repasses não vistos em pelo menos duas décadas.

Por fim, há o efeito da recessão. Com as atividades reduzidas justamente nas áreas que propiciam renda para a população mais pobre, como restaurantes e serviços pessoais em geral, a margem para reajustes de preços nesses setores é menor —a inflação desses serviços não supera 3% nos últimos 12 meses. Os salários também não acompanham o custo de vida.

No agregado, o IPCA ameaça superar 5% neste ano, acima da meta do Banco Central, fixada em 3,75%. A persistência do fenômeno já começa a impactar as projeções para 2022, que começaram a avançar além da meta de 3,5%. Assim, o BC não tem opção a não ser subir os juros, como começou a fazer no mês passado, mesmo com desemprego em nível recorde.

editoriais@grupofolha.com.br

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