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Revés na vacinação

Previsão para abril se mostrou fictícia, expondo ainda mais a inépcia federal

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O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga (esq.), e seu antecessor, o general Eduardo Pazuello - Raul Spinassé/Folhapress

O Brasil terá menos vacinas, no curto prazo, para superar uma epidemia que nunca foi tão mortífera e que ainda se dissemina de modo descontrolado. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que o país deve ter em abril apenas 25,5 milhões dos 47,3 milhões de doses previstas pelo cronograma deixado por seu antecessor.

Caso o novo cálculo ministerial esteja correto, até o fim deste mês o país teria recebido doses disponíveis para imunizar apenas 22% de sua população vacinável (maiores de 18 anos). Mais de uma dezena de milhão de idosos ficaria ainda sem proteção; é entre as pessoas de 60 anos ou mais que morrem 72% das vítimas da Covid-19.

O cronograma da semana passada se mostrou fictício. Previa doses da indiana Covaxin, temporariamente reprovada, inclusive porque o governo não apresentou documentos para importá-la, segundo a Anvisa. Não virá a russa Sputnik, pendente de liberação também por falta de dados.

Um atraso na matéria-prima vai impedir o Butantan de antecipar doses. A Fiocruz ainda não atingiu a capacidade de produção prevista. Parte desses problemas se estenderá até maio, pelo menos.

O desespero provocado pela escassez contribuiu para a crise política que se desenrola faz duas semanas, agravada por Jair Bolsonaro. Alimenta ideias casuísticas no Congresso para o estímulo a compras privadas fora das regras que corretamente priorizam a fila do SUS —uma deles com a proposta absurda de incentivos tributários.

O governismo tergiversa ao lançar suspeitas de uma lerdeza na vacinação, de fato mais arrastada em certos estados. Mas, até esta quinta-feira (1º), o Ministério da Saúde distribuíra 37,9 milhões de doses, e cerca de 18 milhões de pessoas tomaram ao menos a primeira dose.

Considerado o esquema até há pouco vigente, de preservar doses para uma segunda injeção, não há motivo para estranheza maior. O problema é a falta de vacinas.

O Brasil já deu a primeira dose a 8,3% do total de sua população. Não está tão atrás de França, Alemanha ou Espanha, todos com cerca de 11,5%, também a média da União Europeia. Mas perde dos 35,6% do Chile e 17,9% do Uruguai, para nem mencionar Israel (60,6%), Reino Unido (45,5%) e EUA (29,2%).

Tempos atrás, o Brasil tornou-se um campeão de vacinação, serviço competente no país. Foi rebaixado pela negligência de Bolsonaro.

Não fosse pela iniciativa do governo paulista, o país estaria junto de nações mais pobres e muito mais desorganizadas da vizinhança. De todas as doses aqui aplicadas, cerca de 81% são da chinesa Coronavac —a vacina que não seria comprada, segundo o presidente bravateiro e irresponsável.

editoriais@grupofolha.com.br

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