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Zona de turbulência

Precariedade democrática no Leste Europeu se repete com eleição na Bulgária

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Cartaz de campanha do primeiro-ministro Boiko Borisov em Sofia, na Bulgária - Nikolay Doychinov/AFP

Há alguns anos, Hungria e Polônia têm sido tratadas como nações candidatas a virar párias perante seus sócios na União Europeia, em particular os países mais desenvolvidos e ocidentais do bloco.

Motivos não faltam. Premiê de 1998 a 2002 e de 2010 até hoje, o húngaro Viktor Orbán transfigurou seu país numa autocracia. Já os poloneses têm a vida dominada pelo Lei e Justiça, agremiação de fortes tons direitistas, desde 2005.

Essa perenidade se registra igualmente na Bulgária, onde o algo folclórico primeiro-ministro Boiko Borisov caminha para formar seu quarto governo desde 2009.

O “Batman dos Bálcãs”, famoso pelo gosto por ação e por roupas escuras que remetem ao herói dos quadrinhos, lidera um outro tipo de degradação institucional: a Transparência Internacional classifica a Bulgária como o país mais corrupto da Europa.

Em comum às nações, membros de um esgarçado projeto civilizatório único, a UE, é o fato de que elas foram absorvidas do império comunista liderado pela União Soviética após a partilha da Europa na Segunda Guerra Mundial (1939-45).

Ao fim da Guerra Fria e com a dissolução soviética de 1991, todo o arco da periferia de Moscou desmoronou pela segunda vez no mesmo século —a outra fora em 1917.

O Ocidente declarou-se vitorioso e trouxe para suas estruturas os países que o Kremlin usava como anteparo. De lá para cá, a UE integrou 11 Estados ex-comunistas, e a Otan (aliança militar), 14.

A Rússia de Vladimir Putin tomou nota disso e estabeleceu limites no círculo mais próximo de suas fronteiras, extirpando a Crimeia da Ucrânia e fomentando uma guerra civil que ora ameaça ser descongelada no leste do país.

A ditadura da Belarus é patrocinada pelo Kremlin, e a nanica Moldova vê a mão pesada de Moscou se mostrar contra seu novo governo.

Espremidos entre russos e ocidentais, os países fazem opções diversas —Orbán é próximo de Putin, por exemplo, enquanto a Polônia o vê como inimigo existencial.

Compartilham, contudo, soluções que decorrem do fato de estarem na periferia do sistema ocidental. Vistos com desconfiança pelo Leviatã burocrático e econômico que emergiu da UE, os países do Leste parecem mais impermeáveis à democracia liberal.

Há exceções notáveis, como a ex-soviética Estônia, mas a turbulência segue como a característica mais duradoura de toda a região.

editoriais@grupofolha.com.br

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