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Fernando Cotait Maluf

A importância das terapias orais no tratamento do câncer

Medicação permite cuidado em casa, o que reduz risco de contaminação pelo novo coronavírus

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Fernando Cotait Maluf

Diretor associado do Departamento de Oncologia Clínica da Beneficência Portuguesa de São Paulo e membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein

​O tratamento do câncer contou com uma grande evolução nas últimas décadas, o que está relacionado tanto aos desfechos positivos dos medicamentos como ao conforto proporcionado ao paciente e à sua família. As terapias orais são parte importante disso, pois permitem um aumento do controle sobre a evolução da doença e trazem maior comodidade, já que podem ser administradas em casa, reduzindo assim o desconforto e riscos de internações de longo prazo. Apesar de já não representarem uma novidade no mercado, a realidade de grande parte dos pacientes no Brasil ainda não contempla esse tipo de tratamento.

A pandemia de Covid-19 nos obrigou a tomar medidas de isolamento social e esse é um ponto fundamental para os pacientes de câncer. O risco de contraírem o vírus é ainda maior por conta do organismo já debilitado e faz com que muitos tenham medo de seguir as visitas com o médico e, por isso, interrompem os seus tratamentos. Já não bastasse a preocupação com os pacientes de Covid-19, ainda sabemos que há uma demanda reprimida de pacientes oncológicos que estão em casa sem tratamento ou de pessoas que deixaram de realizar exames de rastreamento e podem hoje ser novos pacientes de câncer, perdendo a chance de um diagnóstico precoce.

Fernando Cotait Maluf  - Médico oncologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo e do Hospital Israelita Albert Einstein, é professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e fundador do Instituto Vencer o Câncer
O professor e médico oncologista Fernando Cotait Maluf - Divulgação

Ao darmos maior acesso a drogas orais, muitos podem realizar os seus tratamentos em casa, em um contexto mais seguro e familiar. É verdade que, quando realizado em domicílio, o tratamento passa a contar com uma coparticipação do paciente e de sua família, e a disciplina precisa ser redobrada. No entanto, o conforto desse paciente é muito importante para a sua evolução, incluindo o fato de que as drogas orais apresentam menores efeitos adversos em comparação com grande parte das quimioterapias endovenosas.

Em 2021, os brasileiros alcançaram uma nova vitória nesse sentido. Após a submissão feita pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) para a última consulta pública realizada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em 2020, foram aprovados e incluídos 22 medicamentos para o tratamento de diferentes tipos de câncer no rol de Procedimentos e Eventos em Saúde, que determina a cobertura mínima obrigatória por parte dos planos de saúde. Em sua grande maioria, as drogas consistiam em medicações de administração oral —entre elas está a enzalutamida, para a utilização em casos de câncer de próstata resistente à castração não metastático (CPRCnm).

O câncer de próstata é o segundo tipo de neoplasia que mais acomete os homens no Brasil, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Além do fator estatístico, os mitos e dúvidas envolvidos no tratamento desse tipo de câncer e na forma como os homens tradicionalmente tratam os cuidados com a própria saúde —em geral, são mais negligentes do que as mulheres— representam questões que reforçam a importância de o paciente se sentir mais confortável e tranquilo ao enfrentar a doença. Estar longe de um ambiente hospitalar, repleto de agentes externos, é extremamente relevante.

As terapias orais para o câncer envolvem diversas classes medicamentosas, como as terapias-alvo. Esse é um tipo de tratamento mais personalizado, que age na fonte do problema, atacando os exatos mecanismos responsáveis pela replicação disfuncional das células, inclusive em doenças raras como a leucemia mieloide aguda (LMA), enfermidade que acomete, em sua maioria, adultos acima dos 68 anos.

As terapias orais são uma oportunidade importante para os pacientes mais idosos, que já não podem se tratar com o tipo de quimioterapia necessária para o seu caso, já que o seu organismo é mais debilitado. Nessas circunstâncias, a terapia-alvo reduz a necessidade de hospitalização para pacientes imunossuprimidos durante a pandemia, prezando pela saúde, segurança e pelo conforto familiar que continua presente na vida desses pacientes por meio de um medicamento administrado no próprio lar. Além disso, várias medicações orais não têm um substituto endovenoso e representam hoje a grande maioria das medicações em oncologia.

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