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O que a Folha pensa

A origem do vírus

Embora parte de embate geopolítico, dúvida sobre o Sars-CoV-2 é pertinente

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Testagem para o coronavírus em Wuhan, na China - 15.mai.20/AFP

Ainda está por ser descrita a gênese do Sars-CoV-2, o vírus causador da Covid-19. Até o momento, a hipótese mais aceita é a de que o patógeno passou de um animal para seres humanos. O fenômeno, conhecido como transbordamento zoonótico, é causa de diversas doenças, inclusive algumas provocadas por outros coronavírus.

Nas últimas semanas, contudo, duas iniciativas colocaram alguns grãos de sal nessa explicação.

Elas apontam a insuficiência de elementos para descartar uma outra possibilidade, decerto menos provável, mas não impossível —a de que o vírus possa ter escapado acidentalmente do Instituto de Virologia de Wuhan, um laboratório localizado na cidade chinesa onde foram registrados os primeiros casos da enfermidade.

Na quarta (26), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu às agências de inteligência de seu país que redobrassem os esforços para determinar a origem do vírus e fizessem um relatório em 90 dias.

Duas semanas antes, um grupo de 18 pesquisadores publicou uma carta no periódico científico Science apontando a necessidade de mais investigações sobre o assunto.

Os questionamentos fundamentam-se no fato de que até o momento não se encontrou em hospedeiros animais um vírus idêntico ao que vem contaminando as populações de todo mundo.

Tal lacuna impede tanto a reconstrução completa da trajetória evolutiva do patógeno como a determinação de quando e onde se deu o salto interespécies.

Não obstante tais indeterminações, o relatório lançado em fevereiro pela Organização Mundial da Saúde com a participação de cientistas chineses considerou a hipótese do transbordamento como “provável a muito provável” e a de um incidente de laboratório como “extremamente improvável”.

Acrescente-se a isso o fato de que todas as informações, dados e amostras que embasaram o documento final vieram da equipe chinesa. A falta de transparência não é de agora. Desde as primeiras semanas do surto, a potência asiática tem agido para atrasar, desviar ou bloquear investigações sobre as origens do vírus.

Não se podem deixar de lado as motivações geopolíticas de Biden, que dá prosseguimento, em outros termos, ao embate americano com a China. São pertinentes, de todo modo, as dúvidas sobre o assunto.

Cumpre às autoridades sanitárias do planeta esclarecê-las por meio de uma investigação rigorosa e transparente.

editoriais@grupofolha.com.br

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