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O que a Folha pensa CPI da Covid

Além dos holofotes

CPI da Covid precisará de mais preparo e planejamento para avançar na apuração

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Sessão da CPI da Covid - Pedro Ladeira/Folhapress

Na semana passada, a Folha publicou uma cronologia das ofertas de vacinas da Pfizer ao governo brasileiro. Tivessem os senadores da CPI da Covid inquirido o general Eduardo Pazuello com o rigor baseado na sequência de fatos, o depoimento seria mais esclarecedor —ou, ao menos, as evasivas do depoente seriam logo contestadas.

Essa é apenas uma evidência anedótica do despreparo da maioria dos parlamentares que participam da comissão, muitos deles mais empenhados em aparecer para as câmeras e as redes sociais.

Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, deu outro indício da displicência do colegiado ao afirmar que contrataria um serviço externo a fim de averiguar as mentiras de Pazuello. Ora, boa parte do trabalho prévio da investigação deve ser reunir um elenco de fatos bem estudados e documentados.

Ademais, o Congresso dispõe de um grande corpo de consultores legislativos capazes e bem pagos. Os senadores dispõem de assessorias numerosas e custosas. Não se vê equipe técnica da CPI dedicada não apenas a aspectos jurídicos mas também sanitários.

Com poucas exceções, os inquiridores parecem desconhecer documentos públicos sobre a atuação do governo. Há, por exemplo, um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre omissões do Ministério da Saúde na epidemia que renderia horas de perguntas.

A CPI também pode ser mais do que uma apuração do passado recente. Cabe interrogar os integrantes do governo, inclusive, sobre programas de controle da epidemia ainda inexistentes.

O que foi feito para evitar a importação e a circulação do vírus e suas variantes pelo país? Por que não há uma rede nacional de laboratórios rastreando e testando novas cepas? Por que não houve um trabalho de testagem sistemática de possíveis infectados e rastreamento de seus contatos?

Um questionário rigoroso estabeleceria as responsabilidades e lançaria uma demanda imediata de ação do governo Jair Bolsonaro, que obviamente sabota ou proíbe todas essas iniciativas.

Já está superada a etapa dos testemunhos mais óbvios e midiáticos —a depoente desta terça (25) foi uma funcionária de segundo escalão. Doravante, a relevância da comissão tende a depender mais da organização dos trabalhos e da qualidade da apuração.

Aos senadores não basta escandalizarem-se diante dos holofotes. Há que reunir os documentos disponíveis, exigir os sigilosos e questionar de modo preciso, em equipe, dando prosseguimento às perguntas dos colegas. O que não falta, decerto, são desmandos a detalhar.

editoriais@grupofolha.com.br

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