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Catástrofe indiana

País dá outro exemplo trágico das consequências de subestimar riscos da Covid-19

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Indianos se aglomeram para banho no rio Ganges - Anushree Fadnavis/Reuters

A catástrofe provocada pela Covid-19 na Índia, que nas últimas semanas tomou do Brasil o inglório posto de epicentro mundial da doença, constitui tanto um lembrete amargo da força destrutiva da moléstia como uma lição para as autoridades que a subestimam.

No início de março, o governo do primeiro-ministro Narendra Modi anunciou de modo triunfante que a enfermidade estava prestes a ser vencida e que a população poderia começar a voltar à vida normal.

Àquela altura, embora ostentasse números relativamente modestos de casos e mortes, o país ainda não havia conseguido imunizar com duas doses nem 1% do 1,4 bilhão de indianos. Bastaram algumas semanas para que o diagnóstico alvissareiro fosse desmentido.

Hoje a Índia vive cenas dantescas. Sua infraestrutura médica desmoronou, com pacientes morrendo na porta dos hospitais por escassez de leitos, remédios e oxigênio, em meio ao surgimento de uma variante potencialmente mais agressiva. Com os crematórios abarrotados, corpos vêm sendo queimados em piras ao ar livre.

Nos últimos dias, o país tem registrado o maior número de casos e mortes no mundo. Neste sábado (1º), anotaram-se quase 402 mil novas infecções e 3.523 óbitos.

Tais números, por mais elevados que sejam, ainda são proporcionalmente menores que os do Brasil, cuja população é um sexto da indiana. Epidemiologistas alertam, porém, que as cifras reais tendem a ser muito mais altas.

Segundo o Registro Geral da Índia, apenas 77% das mortes são oficialmente registradas, e 22% delas acabam certificadas por médicos.

A escalada avassaladora da doença, infelizmente, não surpreende. Embriagado pela falsa percepção de vitória sobre a Covid-19, o governo indiano ignorou alertas e tomou uma série de decisões no mínimo temerárias.

Festas de casamento e jogos de críquete com dezenas de milhares de torcedores passaram a ser permitidos. Mesmo com a quantidade de casos aumentando, Modi protagonizou imensos comícios com o objetivo de alavancar seu partido em eleições regionais. Permitiu ainda a festividade de Kumbh Mela, em que milhões se banham nas margens do rio Ganges.

Assim como os brasileiros, os indianos constatam do modo mais duro as consequências de contar com lideranças que se guiam por imperativos políticos e ideológicos, em vez de sanitários e científicos.

editoriais@grupofolha.com.br

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