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O que a Folha pensa CPI da Covid

Custo Bolsonaro

Reações destrambelhadas em meio à CPI ameaçam a já desastrosa gestão da pandemia

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O presidente Jair Bolsonaro - Ueslei Marcelino/Reuters

Nas últimas semanas, houve alguns passos em tese promissores no combate à pandemia. Eduardo Pazuello (Saúde) e Ernesto Araújo (Itamaraty) foram removidos dos cargos, ensejando melhoria na condução dos esforços, que envolvem interlocução internacional.

Como o presidente continua o mesmo, contudo, os resultados são diluídos na cacofonia oriunda de um Palácio do Planalto cada vez mais encurralado pela pilha de cadáveres e as revelações inevitáveis de sua inépcia promovidas pela CPI ora em curso no Senado.

A quarta-feira (5) foi exemplar. Enquanto o titubeante Nelson Teich confirmava um truísmo acerca de sua breve passagem pela pasta da Saúde, de que discordava da política bolsonarista de promoção da cloroquina, o presidente abriu um dique verbal de absurdos.

Defendeu o indefensável tratamento precoce com o remédio e outros sem eficácia, fez novas ameaças vazias contra medidas de restrição de circulação do vírus e resolveu voltar a atacar a China.

Sobre o primeiro item, é decantada a responsabilidade presidencial no caso, mas nada que a lassidão moral do apoio do centrão a Bolsonaro considere sério agora.

Acerca do segundo ponto, a repetição da prática avançou no terreno da intimidação autoritária tão ao gosto do mandatário —que, no entanto, mais uma vez mostra mais fraqueza do que força.

Já a nova carga contra Pequim tem implicações mais imediatas. Bolsonaro, brincando de esperto ao dizer que não iria nominar a grande economia que mais cresceu em 2020, a chinesa, associou o feito a uma suposta guerra biológica.

Ao regurgitar esse delírio da extrema-direita americana, o presidente põe em risco maior a já catastrófica gestão da pandemia.

A ditadura comunista é fornecedora dos insumos para a formulação das duas vacinas em uso no Brasil, a Coronavac (Instituto Butantan) e a de Oxford (Fiocruz). Como se sabe, a China tem represado o envio de lotes dessas matérias-primas, alegando duvidosos embaraços aduaneiros.

A realidade está mais próxima daquilo que foi externado pelo presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), que ao lamentar a frase de Bolsonaro resumiu: “Estamos nas mãos dos chineses”.

Com tudo isso, o país arrisca comprar mais descrédito em Pequim, anulando o bônus da defenestração do paranoico Araújo, no momento em que precisa de muitas vacinas —os perigos de um blecaute no setor em junho são reais.

Observando o depoimento à CPI do sucessor de Pazuello, Marcelo Queiroga, o desassossego impera. Sem respostas para o irrespondível, o ministro não inspira otimismo nesta etapa da tragédia nacional.

editoriais@grupofolha.com.br

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