Não é por acaso que, no último ano, a sigla ESG ( Environmental, Social and Corporate Governance) vem se tornando cada vez mais onipresente no universo dos negócios. Ela se refere, como se sabe, a “ambiental, social e governança”, a síntese das responsabilidades que se esperam de uma empresa.
O terreno já estava sendo preparado havia alguns anos por empresas e investidores pioneiros, mas a catástrofe da pandemia do novo coronavírus trouxe pelo menos dois aceleradores importantes.
Em primeiro lugar, mostrou que os grandes problemas e desafios deste século serão globais e precisarão, portanto, ser encarados coletivamente.
Em segundo, revelou que a “licença para operar” dos negócios está cada vez mais associada ao comportamento desses negócios frente aos desafios de sustentabilidade do meio ambiente e de suas comunidades neste momento de crise.
Nesse cenário, as empresas foram chamadas a assumir seu quinhão de responsabilidade, e a adoção de políticas de ESG sinaliza esse tipo de compromisso perene com a coletividade e com o planeta.
O futuro, ao que tudo indica, pertence àqueles empreendedores capazes de demonstrar compromisso real com os valores embutidos nessas três palavras.
A tendência observada desde o início da pandemia se intensificou com a eleição de Joe Biden para a Presidência dos Estados Unidos. Desde a campanha, Biden anunciou que a questão ambiental seria prioritária.
Um primeiro gesto nessa direção foi feito logo no início do mandato, com a reincorporação dos EUA ao Acordo de Paris.
Agora, passada a marca dos cem dias de governo, já testemunhamos alguns efeitos práticos da política americana. O destaque dado à recente Cúpula do Clima, tanto pela imprensa internacional quanto pelos próprios líderes globais, dá a dimensão de como a maior potência econômica do planeta pode influenciar o ritmo da agenda de sustentabilidade.
No mundo de 2021, quem quer fazer negócios precisa provar que tem responsabilidade social. Os motivos para isso são bastante práticos. Mercados bilionários como o europeu já exigem certificações sociais e ambientais para a entrada de alguns produtos importados. No médio prazo, a tendência é que aumente a quantidade e especificidade dessas exigências. Os acionistas sabem muito bem disso, daí o esforço de muitas empresas, especialmente em setores exportadores, como o de proteína ou de celulose, para comprovar suas boas práticas.
O mercado de crédito também começa a se adaptar a essas novas tendências. Ganha força a ideia de que os bancos devem condicionar empréstimos à observância de metas sociais, ambientais e de governança, transparência e diversidade. Com isso, o círculo se fecha ainda mais para as poucas companhias que insistirem em desconsiderar o ESG em seus planos de crescimento.
É claro que a implementação de uma agenda desse tipo implica algum gasto. Manter um programa social tem custo. Reduzir impacto ambiental, adotar energia limpa, criar processos seletivos e de carreira que prezem pela diversidade, idem. É preciso, no mínimo, investir tempo na formulação de estratégias, revisão de algumas práticas e na definição de novas prioridades e metas.
Felizmente, a maioria das grandes empresas já percebeu que esse gasto é, na verdade, investimento. No atual contexto internacional, o compromisso com práticas de ESG deixou de ser uma opção. Diante da exigência de consumidores e investidores, as empresas que quiserem sobreviver terão de ir além da retórica na defesa dos interesses da sociedade.
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