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Era campanha

É risível tese de que ato com Bolsonaro e Pazuello não tinha caráter político

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Sem máscara, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello participa de ato em apoio a Bolsonaro neste domingo (23) com motociclistas no Rio de Janeiro
Sem máscara, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello participa de ato em apoio a Bolsonaro - Reprodução

É um escárnio a tentativa do general Eduardo Pazuello de caracterizar o desfile de motociclistas e a realização de um comício em favor de Jair Bolsonaro, no Rio de Janeiro, como atos desprovidos de caráter político-partidário.

A argumentação do ex-ministro da Saúde, endossada e repetida pelo presidente da República, é um expediente falacioso no intuito de defender o oficial de punições por ter infringido regulamentos que vetam o engajamento de militares da ativa em manifestações desse tipo.

A alegação de Bolsonaro de que o evento não seria partidário devido ao fato de ele por ora não ser filiado a nenhuma sigla é primário.

Pressionado por congressistas, em litígio permanente com decisões do Supremo Tribunal Federal, vendo sua popularidade perder terreno nas pesquisas, o chefe de Estado está em campanha aberta pela reeleição.

O “passeio de moto” que promoveu no Rio e o palanque do qual Pazuello saudou sua “galera” dispensam interpretações. Trata-se de manifestação político-eleitoral.

Bolsonaro já viajou para 22 cidades diferentes neste ano a fim de participar de solenidades —incluindo, na quinta-feira (27), a inauguração de uma ponte de madeira em uma estrada de terra em São Gabriel da Cachoeira (AM).

Se a mistura entre compromissos presidenciais e atos eleitorais faz parte da paisagem política, a presença de um militar da ativa em eventos do gênero não pode ter sua gravidade subestimada.

Pazuello, que não se envergonhou em proferir inverdades em série no depoimentos prestado à CPI da Covid, personifica de modo caricatural aquilo que Bolsonaro insiste em chamar de “meu Exército” em tom de intimidação.

Cumpre lembrar que apenas dois meses atrás o governo flertou com a crise militar quando os comandantes das três Forças e o ministro da Defesa deixaram seus postos, recusando-se a manifestar o alinhamento desejado pelo presidente.

Infelizmente, a associação entre a caserna e o governo de turno já ultrapassou os limites desejáveis, com mimos salariais e a presença excessiva de fardados em cargos da administração federal.

O posicionamento de Bolsonaro e do ex-ministro da Saúde com o propósito de negar as evidências cria mais uma situação delicada para as Forças Armadas.

Caso o comando militar cumpra o regulamento e puna o general, poderá criar um atrito com o presidente. Se optar pelo recuo, o que seria lastimável, estará criando um precedente perigoso.

editoriais@grupofolha.com.br

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