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Inflação americana

Volta da aceleração de preços nos EUA traz novos riscos para a economia mundial

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O presidente do Fed, Jerome Powell - Kevin Lamarque/Reuters

Com alta de 0,77% em abril e 4,2% nos últimos doze meses, a inflação assusta nos Estados Unidos. Embora a taxa não pareça tão ameaçadora para padrões brasileiros, quando se trata do centro financeiro mundial o impacto é marcante.

A variação em um ano foi a maior desde setembro de 2008 e se estendeu além dos itens voláteis, como alimentos e energia. O chamado núcleo da inflação, que exclui esses componentes, subiu ainda mais no mês passado, 0,92%, e indica pressões mais amplas.

Por certo há elementos temporários, derivados da reabertura da economia americana, que vai ganhando velocidade. Passagens aéreas, hotelaria e parte dos serviços, por exemplo, foram afetadas pelo súbito aumento de demanda, que permite às empresas recompor margens de lucro perdidas durante a pandemia.

Mas há riscos que podem ser mais duradouros, derivados de insuficiência de insumos e problemas logísticos. A pandemia alterou os padrões de consumo, e levará tempo até um novo equilíbrio.

Enquanto isso, no mercado de trabalho também aparecem as evidências de crescimento desbalanceado. Mesmo com criação de vagas menor que a esperada no mês passado e ampla ociosidade no mercado de trabalho, a inflação salarial também vem subindo. O pacote de gastos públicos do presidente Joe Biden, ademais, tende a apressar a volta do emprego.

A alta da inflação assusta porque pode obrigar o Federal Reserve, o banco central americano, a reduzir estímulos mais cedo.

A autoridade monetária sugere que a taxa de juros permanecerá próxima de zero até 2023, mas, se a inflação subir muito além dos 2% de forma sustentada e a economia voltar rapidamente ao pleno emprego, o quadro poderá ser outro.

Por ora, o Fed sugere que considera as pressões como temporárias e ainda há amplo espaço para a criação de vagas de trabalho. Da mesma forma que a pandemia levou a colossais estímulos fiscais e monetários, porém, a saída da crise poderá trazer novos desafios.

A inflação permaneceu dormente nas últimas duas décadas, o que permitiu uma queda estrutural nos juros globais. O risco hoje é que o Fed, otimista, deixe a economia superaquecer e depois tenha de pisar bruscamente no freio.

Nessa hipótese,a exuberância dos mercados de ações, imóveis e ativos em geral será abalada. Um cenário de crise financeira ainda parece distante, mas o grau de incerteza se tornou mais alto que o usual.

editoriais@grupofolha.com.br

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