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O que a Folha pensa CPI da Covid

Missão impossível

Pazuello encena na CPI a estratégia canhestra de defesa do governo Bolsonaro

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O general Eduardo Pazuello, em depoimento à CPI - Jefferson Rudy/Agência Senado

“Missão cumprida”, respondeu Eduardo Pazuello à pergunta da CPI sobre o motivo de sua exoneração do cargo de ministro da Saúde.

Durante seus dias à frente da pasta, morreram ao menos 283 mil pessoas de Covid-19. Pazuello saiu em março, derrubado também pelo clamor nacional de indignação por causa da explosão do número de mortes, pela falta de medicamentos para entubação e pelo colapso asfixiante de Manaus.

O ex-ministro não conseguiu cumprir a missão de isentar Jair Bolsonaro de tamanho desastre, embora tenha tentado fazê-lo.

O general mentiu, embaralhou fatos e contradisse sem provas outros depoimentos à CPI. Quanto a Bolsonaro, afirmou que jamais recebeu ordens que se contrapusessem à orientação de seu ministério e que declarações do presidente a respeito da epidemia não deveriam ser tomadas ao pé da letra.

Deduz-se, portanto, que Bolsonaro não interferiu no desastre gestado na pasta da Saúde e que a propaganda presidencial que sabotou e sabota as medidas sanitárias é um programa político. De um lado, Bolsonaro foi negligente ou cúmplice de um Pazuello autônomo; de outro, um farsante doloso.

O general disse que foi avisado tardiamente do colapso de Manaus, o que é negado por documentos. Que seu ministério respondeu a ofertas da Pfizer, o que é negado pela direção da empresa e pelo ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten. Que o aplicativo TrateCov, de orientação de tratamento precoce, nunca entrou em operação, refutando a realidade.

Atribuiu atrasos na compra de vacinas a medidas do TCU e da CGU, negadas pelas instituições. Em suma, acabou por indicar à CPI uma longa lista de acareações.

Em um vídeo de outubro de 2020, o militar submisso dizia ao lado de Bolsonaro que “um manda, outro obedece”. O presidente afirmara em público que não compraria vacinas do Butantan. Mas a cena seria “apenas uma posição de internet”.

Assim como sugeriu o depoimento de outro ex-ministro, Ernesto Araújo (Itamaraty), a falação de Pazuello demarca uma estratégia de defesa do governo. Bolsonaro não dava ordens nos piores feitos dos ministros, os quais tampouco se responsabilizam pelo desastre.

Apesar de falsearem à larga, de certo modo o que dizem os ministros têm um grão sujo de verdade: o governo mal governa. Dedica-se à agitação e propaganda negacionista, à sabotagem das instituições, da máquina do Estado e das operações comezinhas da administração. No mundo delirante do bolsonarismo, é tudo verdade.

editoriais@grupofolha.com.br

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