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Sinval de Itacarambi Leão

Paixão pela liberdade de imprensa: agenda permanente

Nunca foi uma virtude tão necessária como nesta era do negacionismo e da desinformação

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Sinval de Itacarambi Leão

Jornalista e publicitário, é fundador e diretor responsável da revista e portal Imprensa

O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, celebrado nesta segunda-feira (3), foi instituído pela ONU desde 1993 e representa a definição mais apaixonante da democracia contra os ditadores e os candidatos a déspotas, esclarecidos ou não. A liberdade é a poesia da autoestima, sentimento do direito inato de ser o que quiser. A Unesco, braço cultural e curador das causas e atividades culturais de todos os povos, foi quem teve o "insight" de aprofundar o conceito da liberdade de imprensa como uma resposta permanente e ativa, motivando assim a universalização de sua celebração.

À instituição da imprensa compete a luta sem trégua a favor da verdade e contra a negação dos fatos. Nunca a paixão foi uma virtude tão necessária como na era do negacionismo, onde a desinformação virou uma arma mortal contra a democracia e que até tem nome: fake news, assim mesmo, em inglês.

Na prática diária do jornalismo há um desafio tácito formulado entre o sujeito povo, donde emana todo o poder e os Poderes que se legitimam no Estado de Direito. A ruptura acontece sempre que o poder instituído quer controlar o povo, por decreto, via seus representantes ou golpe militar. Todas as maquinações do poder vigente em negar o povo são vistas como anticonstitucional ou mesmo crime quando há tipificações apenadas.

Desde a execução de Marat, na Revolução Francesa (1793), e o massacre da Redação do Charlie Hebdo, na França, em 2015, jornalistas morrem por conta da imprensa livre. No Brasil, na primeira década da Independência, o Poder Imperial eliminou dois jornalistas, que se tornaram mártires: Frei Caneca (1825) e Libero Badaró (1830). E isso com uma Constituição imposta por d. Pedro 1º, em 1824, em que, pasmem, a liberdade de imprensa era literalmente descrita.

A ditadura militar de 1964 impôs as famigeradas leis de Segurança Nacional e de Imprensa, torturou e executou Vladimir Herzog (1975), cujo assassinato marcou o início da redemocratização do Brasil. Tim Lopes, morto em ritual macabro pelo narcotráfico carioca, em 2002, serve também de referência a todos os jornalistas de como a luta pela liberdade de imprensa é multifacetada. Vai dos truques jurídicos de má-fé, nos 66 processos de Igreja Universal contra Elvira Lobato que denunciavam o enriquecimento inexplicável dos pastores, em 2007, aos ataques imorais a Patrícia Campos Mello, em 2020, sobre a denúncia dos disparos ilegais nas mídias sociais para o candidato Jair Bolsonaro, nas eleições de 2018.

Não nos esqueçamos ainda do ato terrorista, em março deste ano, contra a Redação e casa da família do jornalista José Antônio Arantes, diretor da Folha da Região, em Olímpia (SP), pelo simples fato de o jornal defender medidas sanitárias contra a pandemia.

A paixão pela liberdade não motiva os jornalistas apenas como ativo imanente, mas principalmente como dinâmica estruturante da arte e da ação de informar a partir dos fatos e do contraditório.

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