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O que a Folha pensa

Alívio cambial

Queda do dólar reflete melhora de indicadores, mas tendência depende da política

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Cédulas de dólar - Jorge Araújo/ Fotos Publicas

O preço do dólar passa por uma espécie de normalização. Na média da semana que passou, desceu a R$ 4,97. É valor próximo ao verificado em março de 2020, quando a epidemia chegava ao país e começava o processo de desvalorização acelerada da moeda brasileira.

Caso essa descompressão seja duradoura, é possível que produza efeitos benéficos na inflação, depois de o câmbio depreciado ter provocado grandes aumentos nos preços do atacado. Caso o real se estabilize ou se valorize, o impacto deve ser mais relevante em 2022.

A forte depreciação havia sido atribuída ao salto da já exorbitante dívida pública do país. Também se explicava por características do mercado de câmbio nacional, que muitas vezes reage de modo exagerado a tensões externas.

A moeda brasileira mantinha-se desvalorizada mesmo com a melhoria dos termos de troca —o aumento de preços das exportações brasileiras em relação ao das importações, impulsionado pela alta das commodities. Nessas situações, de costume a moeda se aprecia. Não foi o caso até há pouco.

Vários fatores parecem favorecer o movimento recente da taxa de câmbio. Arrefeceram, por ora, as expectativas de subida de juros nos Estados Unidos. A Selic, taxa básica brasileira, passou dos 2% ao ano de março para os atuais 4,25%, devendo chegar a pelo menos 6,5% em dezembro, segundo se projeta.

O saldo das contas externas melhorou. O déficit em conta corrente caiu de 3,85% do Produto Interno Bruto em maio de 2020 para 0,55% em maio passado, considerando períodos de 12 meses. Os preços das commodities permanecem altos, e voltou a haver entrada de capital externo.

Os piores prognósticos para o aumento da dívida pública não se confirmaram; ameaças mais graves ao teto de gastos parecem ora contidas. As estimativas de crescimento do PIB neste ano melhoram de modo significativo.

Ainda que o destino da epidemia seja incerto, os mercados creem que o avanço da vacinação vá atenuar os danos causados pelo vírus.

Um câmbio estável em valor adequado depende de inflação e dívida pública sob controle, além de previsibilidade razoável na política e na economia. A recente valorização do real é um alívio instável, mas ainda assim, um alívio.

editoriais@grupofolha.com.br

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