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Deficiências e descoordenação projetam América do Sul ao epicentro da pandemia

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Protesto contra medidas restritivas contra a Covid-19 em Buenos Aires - Martín Zabala/Xinhua

A América do Sul, embora com renda média superior às de países e regiões pobres e populosas como Índia e África, tornou-se o canto do mundo onde a pandemia faz os maiores estragos. O continente é hoje o fulcro da Covid-19.

Seus países e dependências se viram tomados por epidemias do novo coronavírus Sars-CoV-2 em momentos diversos e com dinâmicas próprias, mas o passar dos meses terminou por evidenciar que condições comuns se impuseram para aproximá-los na ocorrência de números alarmantes.

Deficiências nos sistemas de saúde, desigualdade e agravamento da pobreza na pandemia têm pesado para impulsionar a região nas estatísticas lúgubres. Uma comparação entre Argentina, Brasil e Chile elucida como situações muito díspares de início convergiram para o tenebroso panorama atual.

O Brasil atrai a atenção mundial porque, com grande população e políticas desastrosas de Jair Bolsonaro, produz números absolutos de infecções e óbitos chocantes.

Mesmo em termos relativos, em julho de 2020 o país se projetava com mais que o dobro da cifra de mortes diárias por milhão de habitantes da Argentina (5 ante 2).

Na mesma época, era o Chile a se destacar na mortandade, com saltos a 12 óbitos/milhão; em outubro do ano passado, foi a vez de argentinos alcançarem picos breves de 17 mortes/milhão.

A partir de março deste ano o Brasil ficou por quase dois meses na liderança de casos fatais, entre 10 e 15 óbitos/milhão. Espalhou preocupação no mundo, sobretudo pela conduta indefensável do governo, mas a epidemia estava longe de controlada nos vizinhos.

Recuos recentes abateram a mortalidade no território nacional, entretanto permanecemos num nível alarmante de mortes (8,5/milhão, perto da média sul-americana de 8,7). Em paralelo, os óbitos explodiam entre argentinos (13/milhão).

Em que pesem disparidades nacionais, a pandemia sul-americana se distanciou da observada em países que adotaram políticas mais consequentes. A média mundial de óbitos diários por milhão está em 1,2, similar à dos EUA, ainda o campeão de mortes acumuladas (599 mil, contra 482 mil do Brasil).

Não parece correto atribuir as diferenças apenas ao progresso disparatado da vacinação. Chile e Uruguai lograram imunizar parcela similar da população (cerca de 60%), mas as mortes de uruguaios se contam na casa de 18,3/milhão, face a 5,5/milhão de chilenos.

As nações sul-americanas têm vários problemas em comum, de variantes do Sars-CoV-2 às deficientes ações de distanciamento social, controle de fronteiras, rastreamento e isolamento de contatos.

Não falta só ao Brasil uma coordenação do combate à pandemia; os países do continente precisam também alinhar suas políticas e derrotar o inimigo comum.

editoriais@grupofolha.com.br

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