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Força enfraquecida

Exército coloca a disciplina em xeque ao ceder a Bolsonaro e livrar Pazuello

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O comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira - Waldemir Barreto/Agência Senado

Ao livrar o general Eduardo Pazuello de punição após um grave episódio de indisciplina, o comando do Exército abalou um dos pilares erigidos para sustentar as Forças Armadas na ordem republicana.

Os regulamentos da corporação proíbem militares da ativa como Pazuello de participarem de eventos políticos, o que ele fez quando se juntou a Jair Bolsonaro no palanque de um ato convocado por militantes há duas semanas.

O comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, anunciou na quinta (3) o arquivamento do processo disciplinar aberto para examinar a conduta do oficial insubordinado, aceitando suas explicações.

Pazuello justificou-se com a desculpa esfarrapada de que a manifestação bolsonarista não tinha caráter partidário, dada a circunstância de que o presidente não está filiado a nenhuma sigla no momento.

Bolsonaro não só endossou a desfaçatez como nomeou seu desastroso ex-ministro da Saúde para um cargo na cozinha do Palácio do Planalto, ampliando a pressão para que o comandante do Exército o poupasse de constrangimentos.

Além de submeter-se à vontade do presidente da República, o general Paulo Sérgio desprezou a opinião de outros integrantes da cúpula do Exército que defendiam a aplicação da pena mínima de advertência para Pazuello.

Ainda que se aceite a versão de que o comandante optou pela acomodação para evitar uma nova crise militar, dois meses após as mudanças abruptas promovidas por Bolsonaro na área, é impossível ignorar o perigoso precedente criado por sua decisão.

Se um general pode discursar ao lado de um presidente em campanha pela reeleição, será muito mais difícil fazer valer os códigos da corporação na hipótese de novos desafios à hierarquia.

Trata-se de risco particularmente inquietante na conjuntura atual, em que se veem com frequência abusos e casos de indisciplina nas polícias militares, cujos membros estão sujeitos às mesmas restrições impostas às Forças Armadas.

Quando o comandante do Exército aceita correr esse risco para não contrariar o mandatário, coloca em xeque a credibilidade da entidade que representa.

Defenestrado do Exército ele mesmo após um episódio de indisciplina no passado, Bolsonaro não cansa de usar a aliança forjada com as Forças Armadas em sua ascensão ao poder para intimidar opositores. Com o perdão a Pazuello, recebe incentivo para continuar com suas bravatas e, pior, atentar contra as instituições.

editoriais@grupofolha.com.br

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