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Fábio Roberto Ferreira Barreto

Os parabéns são para Sérgio Vaz, mas os presentes...

A trajetória de um poeta e as vitórias para um povo lindo e inteligente

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Fábio Roberto Ferreira Barreto

Professor da rede municipal de ensino de São Paulo, é mestre em estudos comparados de literaturas de língua portuguesa (USP) e autor de textos sobre literatura e ensino de leitura literária

​Filho de “Maria Mineira” e de seu José, Sérgio Vaz é de Ladainha (MG) e de “reclamar como sempre, agir como nunca”. Poeta da periferia, ensinou “o povo lindo e inteligente” que “quem lê enxerga melhor”, fazendo emergir “dos becos e vielas” de Taboão da Serra (SP) e da periferia de São Paulo para o mundo “o milagre da poesia”.

Vaz estreou na literatura, em 1988, com "Subindo a Ladeira Mora a Noite". Na obra inaugural, de poemas como "Palco", despontam algumas características da literatura periférica de que ele mesmo viria a ser um dos fundadores entre os anos de 1990 e 2000.

"A margem do Vento", em 1991, e "Pensamentos Vadios", em 1994 (reeditado em 1999), são títulos que revelam, então, éticas e estéticas que o tornariam conhecido posteriormente como o "poeta da periferia". "A cerca" —poema presente em seus cinco primeiros livros— prova que o uso da arte bem elaborada pode servir a causas bem engajadas.

Artista-cidadão, em 1999, Sérgio inicia o projeto "Poesia Contra a Violência" —finalista do Jabuti 2019 (Fomento à Leitura). A partir dessa iniciativa, escreve Vaz, em 2008, no seu Cooperifa: antropofagia periférica: “fui percebendo [...] que a gente precisava mudar a periferia e não mudar da periferia” (p.62).

Em 2001, Sérgio idealizou a Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia), que nasceu como um “projeto [...] num galpão do município de Taboão da Serra”, conforme noticiou a Folha em 10 de fevereiro de 2001. Em “Antropofagia periférica”, Vaz afirma: “Na fábrica onde nasceu a Cooperifa e onde eu também renasci” (p. 81).

Ainda em 2001, o poeta organizou a "Quinta Maldita", com recitais, no bar do Portuga, no centro, e, na sequência, “numa noite fria de outubro”, Sérgio Vaz e Marco Pezão fundaram o Sarau da Cooperifa, no bar do Garajão, no Maria Rosa —ambos no município taboanense. Em março de 2003, por causa da venda desse bar, o Sarau deixa a cidade e vai para São Paulo, no Jardim Guarujá (zona sul), no bar do Zé Batidão.

O quarto livro do poeta da periferia vem a público em 2004: "A poesia dos Deuses Inferiores". Alguns dos poemas mais potentes de Sérgio Vaz, dentre os quais “Os miseráveis”, surgiram nessa obra. Sem medo de errar, esse livro demarca o amadurecimento estilístico de Vaz como poeta da periferia.

"O Colecionador de Pedras", quinta e mais conhecida obra de Sérgio Vaz, surgiu em 2006, em edição independente (a última autopublicação). Em 2007, o livro é relançado pela editora Global e, definitivamente, se consagra como um dos mais importantes da poesia brasileira atual.

O poeta da periferia articulou, ainda em 2007, a Semana de Arte Moderna da Periferia, e, em 2008, a primeira Mostra Cultural da Cooperifa (realizada anualmente desde então, salvo 2020, ano pandêmico). Essas iniciativas inspiraram artistas e coletivos outros à promoção de ações semelhantes.

Em 2011, Sérgio Vaz lançou "Literatura, Pão e Poesia", no qual transitou de forma muito elegante pela prosa. Em 2016, em seu derradeiro livro, Flores de Alvenaria", demonstra ter aprimorado seu lirismo sentimental, sem, contudo, ter perdido sua po(é)tica social.

Mesmo distanciado das ruas em 2020, Sérgio Vaz se fez próximo: continuou a articular ações pela periferia. Também não descansou os pensamentos, nem tampouco os teclados: em breve, tem obra nova do velho Serjão nas quebradas, para elevar a autoestima da geral.

Parabéns ao poeta pelos 57 anos de vida, completados nesta sexta-feira (26), e pelo presente que tem sido em nossas vidas!

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