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O que a Folha pensa inflação

PIB concentrado

Economia supera expectativas no primeiro trimestre, mas pouco chega às famílias

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Linha de montagem de caminhoes em São Bernardo (SP) - Eduardo Knapp/Folhapress

O Produto Interno Bruto brasileiro cresceu muito mais do que se previa no início deste 2021. A atividade voltou ao mesmo nível do primeiro trimestre do ano passado, que praticamente não sofreu o impacto da pandemia.

Boa parte da população, no entanto, não terá notado melhora. Muitos, sem emprego, com rendimentos do trabalho reduzidos e com poder de compra diminuído pela inflação alta, tentam sobreviver aos tormentos de uma economia que ainda opera muito abaixo mesmo de seu limitado potencial.

A despesa de consumo das famílias caiu, tanto em relação ao trimestre final de 2020 quanto a um ano atrás. Também caiu o dispêndio do setor público. O PIB avançou, em especial, por causa da alta expressiva dos investimentos, na grande maioria privados.

Em geral, a economia se beneficiou dos bons desempenhos da agropecuária e da indústria extrativa —favorecidas por aumento de preços e produção— e da recomposição de estoques industriais.

Mesmo na hipótese de estagnação nos meses seguintes, o resultado do trimestre já indica crescimento de quase 5% neste ano.

Vive-se uma recuperação de terreno perdido. Em relação ao início de 2014, pouco antes do começo da série de recessões, a economia ainda opera em nível 3,1% menor. Trata-se, portanto, de produção e renda menores que as de sete anos atrás — e de uma recuperação acentuadamente desigual, em termos sociais e setoriais.

O setor de serviços, o mais abalado pela epidemia, mal se recupera. Emprega muitos dos trabalhadores mais pobres, em particular informais. O setor de construção civil, empregador também de mão de obra menos qualificada, ainda regride, em termos anuais.

No primeiro trimestre não houve pagamento de auxílios emergenciais. Como se não bastasse, a inflação crescente, em especial a dos alimentos, corroeu o poder de compra dos salários.

De outro lado, nota-se uma elevação da poupança. As famílias de renda mais alta acumularam reservas, impedidas de gastar ou inclinadas a guardar por precaução, dado o futuro mais nebuloso.

Ainda do lado positivo, a valorização das commodities e a adaptação tecnológica à atividade em ambiente de epidemia parecem favorecer o investimento em expansão da capacidade produtiva.

Apesar de algum otimismo devido ao desempenho melhor do que o esperado, há ressalvas e riscos. A epidemia prossegue descontrolada, com o que não haverá recuperação dos serviços e seus empregos.

A inflação continua alta e pode sofrer novos impulsos, dadas a escassez de água e a recuperação dos preços de setores deprimidos.

Além de administrar tais riscos, tarefa usualmente acima das capacidades do governo de turno, é necessário buscar meios de atenuar a crise social especialmente aguda desta retomada assimétrica.

editoriais@grupofolha.com.br

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