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Todos contra Bibi

Coalizão heterogênea e precária pode enfim tirar o premiê israelense do poder

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O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu - Menahem Kahana/Reuters

“Todos contra Binyamin Netanyahu”. Esse bem poderia ser o lema da improvável coalizão que está prestes a conquistar o poder em Israel e encerrar o longo poderio do atual primeiro-ministro do país, que ocupa o cargo desde 2009.

Chistes à parte, é difícil encontrar pontos de contato nas oito siglas que compõem a aliança, cujo pacto foi firmado na quarta-feira (2), além da aversão a Bibi, como é conhecido o mais duradouro líder político israelense.

O grupo abrange um amplo arco ideológico, que vai da ultraesquerda à direita nacionalista, passando pelo centro. Inclui ainda um partido islâmico, o Ra’am, que pode vir a se tornar a primeira legenda árabe a integrar o governo israelense.

Tamanha heterogeneidade representa, numa visão otimista, a amplitude e a complexidade da sociedade israelense contemporânea; numa pessimista, apenas a atual disfunção da política de Israel.

Seja qual for a interpretação mais fidedigna, o fato é que essa solução acabou se mostrando a única capaz de romper um impasse político que resistiu a quatro eleições.

Nos últimos dois anos, nem o grupo do primeiro-ministro nem o bloco opositor conseguiram a maioria dos 120 assentos do Parlamento, o que manteve Bibi no poder, ainda que de forma interina.

Desta vez, porém, falou mais alto o desejo de impedir que um Netanyahu com problemas na Justiça seguisse no comando do país por mais um interregno eleitoral. O premiê responde a acusações de corrupção, suborno e fraude, que ameaçam levá-lo para a cadeia.

A insistência de Bibi em se manter no cargo, e usá-lo para desmerecer as investigações e atacar os juízes do caso, acabou gerando rachas dentro da própria base —e partiu justamente de um antigo aliado, Naftali Bennett, o apoio decisivo para a aliança oposicionista.

Caso venha a ser aprovada no Knesset, numa votação que só deve ocorrer na semana que vem, a coalizão será liderada até 2023 por Bennett, um nacionalista religioso que se opõe à criação de um Estado palestino e defende a anexação de áreas da Cisjordânia. Depois, ele seria substituído pelo centrista e ex-apresentador de TV Yair Lapid.

Até lá, contudo, muita água pode rolar. Bibi faz o possível para solapar o bloco que conta com a frágil maioria de apenas uma cadeira. Por menores que sejam as chances, não convém duvidar de quem já provou tantas vezes a capacidade de sobreviver politicamente.

editoriais@grupofolha.com.br

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