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O que a Folha pensa

Vacina sem lacuna

Todos os níveis de governo precisam buscar aqueles que abandonaram a imunização

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Fila de inscrição para vacina em São Paulo - Rubens Cavallari/Folhapress

Por bem-vinda que seja a aceleração do ritmo da vacinação contra a Covid, com o impulso da saudável competição entre governadores e prefeitos, cumpre apontar que o processo não se dá sem lacunas.

A Folha mostrou em diferentes reportagens que contingentes importantes que já deveriam ter sido vacinados não apareceram para receber a primeira dose. Outros tantos abandonaram o trajeto vacinal no meio, o que compromete a proteção contra o coronavírus.

No começo de junho, constatou-se que 3,6 milhões de brasileiros com mais de 70 anos não estavam completamente imunizados contra a epidemia no país, dos quais 1 milhão não tinha tomado nem a primeira dose e 2,6 milhões não compareceram para a segunda.

Isso representa mais de um quarto dos brasileiros nessa faixa etária, que somam 13,5 milhões de pessoas, de acordo com a estimativa da Campanha Nacional de Vacinação.

Antes, em abril, noticiou-se que mais de meio milhão de pessoas que receberam a primeira dose do imunizante desde janeiro tinham perdido o prazo da segunda etapa vacinal. O cálculo da época considerou a Coronavac, que tem intervalo entre doses de 28 dias.

Tais contas são possíveis porque cada pessoa imunizada é registrada em um sistema do próprio Ministério da Saúde com um código de identificação individual, no qual há informações sobre idade, dose da vacina recebida e grupo prioritário a que pertence.

Essa base integra o DataSUS, serviço do Sistema Único de Saúde criado na década de 1990 para compilar informações para o embasamento de políticas públicas.

Pelos números do DataSUS, já se sabia que a taxa de abandono no caso de vacinas com mais de uma dose —como a meningocócica C (duas doses) e a contra a poliomielite (três doses)— andava alta no país: passara de 15,8% em 2015 para 23,4% em 2019.

Tal cenário, somado à desinformação quanto à pandemia, muitas vezes fomentada pelo próprio governo federal, tornava previsível a necessidade ampla de campanhas para engajar a população no processo. Isso não aconteceu.

Usar o DataSUS para definição de estratégias nacionais deveria ser tarefa diária do Ministério da Saúde, mas a pasta prefere responsabilizar estados e municípios.

É preciso fazer campanhas e busca ativa de grupos prioritários que ficaram para trás, além de facilitar a imunização dessas pessoas sem datas específicas de repescagem. Isso deve ser feito especialmente no caso dos idosos. A ciência, afinal, tem apontado que a idade é o principal fator de risco para a Covid.

A vacinação ampla, cabe sempre repetir, é a única forma virtuosa de superar a crise sanitária.

editoriais@grupofolha.com.br

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