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Governador gay ou gay governador, gesto de Leite ajuda a derrubar preconceitos

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O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) - Felipe Della Valle/Agência Piratini/AFP

Há poucos dias, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), declarou-se homossexual. A afirmação tem gerado reações variadas —inclusive porque Leite, além de nome ventilado para concorrer à Presidência em 2022, na faixa da chamada terceira via, apoiou o candidato Jair Bolsonaro no segundo turno do pleito de 2018.

Críticos à esquerda, ligados ou não à militância LGBTQIA+, viram no anúncio do tucano uma espécie de manobra midiática para torná-lo mais palatável a setores liberais do eleitorado. O governador estaria, por esse ponto de vista, sendo oportunista ao revelar o que seria um segredo de polichinelo.

Além disso, a adesão ao notório homofóbico Bolsonaro seria prova de hipocrisia ou descompromisso com a agenda de direitos dos homossexuais. O fato de Leite ter estabelecido distinção entre ser um governador gay e um gay governador também contribuiu para questionamentos sobre até que ponto ele se engajaria em tais demandas.

Esse tipo de crítica, muitas vezes em tom sectário e ressentido, não foi bastante para acobertar o gesto corajoso e significativo do político, que mereceu amplos elogios.

Num ambiente ainda contaminado por preconceitos e mesmo ameaças de agressões, um ocupante de cargo tão proeminente vir a público assumir sua homossexualidade é motivo de aplauso.

O episódio convida a uma reflexão menos acalorada sobre a relação entre orientação sexual e opções político-ideológicas.

A aproximação nas últimas décadas de movimentos identitários com a esquerda e a explicitação de uma pauta homofóbica por áreas radicais de direita acabaram por reforçar uma divisão que, na realidade, não é tão esquemática.

Pesquisa Datafolha de 2018 mostrou que expressivos 29% dos eleitores que se diziam gays tinham a intenção de votar em Bolsonaro.

Muitos indivíduos LGBTQIA+ são favoráveis a valores não associados aos programas de esquerda e consideram mais relevantes certas pautas, como o combate à corrupção, do que a interferência do Estado em questões sexuais e de gênero. Não é demais lembrar, também, que diversos regimes de esquerda perseguiram homossexuais.

A despeito de atritos e contradições, o mundo assiste a um alvissareiro avanço no reconhecimento dos direitos da comunidade LGBTQIA+, para o qual atos de transparência, como o do governador gaúcho, sem dúvida contribuem.

editoriais@grupofolha.com.br

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