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Monica Benicio

A quem interessa interferir no caso Marielle?

São mais de três anos de perguntas sem respostas

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Monica Benicio

Arquiteta, mestra em urbanismo e viúva de Marielle Franco, é vereadora no Rio de Janeiro (PSOL)

Quem mandou matar Marielle? Essa pergunta ecoa nas sociedades brasileira e mundial há três anos e quatro meses e permanece sem resposta.

Em vez disso, são novas perguntas que surgem. A quem interessa interferir na investigação do caso? Por que a quarta troca de delegado responsável pelo caso? Qual é o futuro na força-tarefa do Ministério Público do Rio de Janeiro sem as promotoras até aqui responsáveis desde o início do caso? São perguntas que o governador Cláudio Castro (PL) e o procurador-geral de Justiça, Luciano Mattos, precisam responder.

Há alguns dias, foram divulgadas na imprensa informações completamente descabidas sobre o caso, fruto da negociação da delação de Júlia Lotufo, viúva do miliciano Adriano da Nóbrega. Não é verdade que Marielle estava disputando espaço político em áreas de milícias na zona oeste da cidade. Ficou parecendo que o intuito é desviar o rumo que as investigações das promotoras estava tomando.

A saída das duas promotoras que chefiavam a força-tarefa do MP, cercada de suspeitas, como a de tentativa de interferência externa, colocam dúvidas sérias sobre a investigação. Quem está interferindo e por quê?

Foi a partir da investigação delas que, em março de 2019, chegou-se aos executores Ronnie Lessa e Élcio Queiroz. Os acusados irão a júri popular em breve, e é nítido que o novo promotor do caso não terá tempo para analisar um processo tão denso e complexo. Ou seja, a condenação de Ronnie e Élcio corre o risco de demorar ainda mais ou, pior, não acontecer.

Agora, o que mais causa espanto é a exclusão das promotoras de toda a negociação da delação de Júlia Lotufo. Quais as razões que levaram as responsáveis pela investigação a não participarem de uma negociação que poderia trazer elementos centrais ao caso? As promotoras tiveram acesso às informações trazidas pela delator e as qualificaram como frágeis e sem provas. Por que a avaliação delas, que conhecem o caso do início ao fim, não foi levada em consideração?

Antes de as promotoras deixarem a força-tarefa, no dia 7 de julho, fomos surpreendidos pela troca do delegado Moysés Santana. É a quarta mudança de delegado. Por que isso aconteceu? A resposta apresentada sempre, de que são apenas mudanças estruturais na Polícia Civil, não convence. Ainda mais depois das informações veiculadas na imprensa, que apontam um possível vazamento de documentos sigilosos da investigação.

O esquema envolve o delegado da Polícia Civil Maurício Demétrio, preso no fim do mês de junho por suspeita de comandar um esquema de propina de lojistas que vendiam roupas falsificadas. Ele é acusado de ter recebido informações sigilosas sobre o caso do assassinato de Marielle por uma pessoa ainda não identificada. Esses dados estavam no email de um ex-policial civil que teve seu sigilo telemático quebrado e é ligado à contravenção no Rio.

Encontrar a resposta à pergunta “quem mandou matar Marielle e Anderson e por quê?” é tirar o Brasil do caminho da barbárie. Porém, essa resposta precisa ser completa. Descobrir os mandantes e as motivações é reconduzir o Brasil à civilidade e à democracia. E é urgente!

Nosso país não pode mais viver atormentado pelas máfias e seus braços políticos. Nosso país não pode mais viver subjugado pelo autoritarismo e o desprezo aos direitos humanos. Cabe ao governador Cláudio Castro, ao procurador-geral Luciano Mattos e ao chefe da Polícia Civil, Allan Turnowski, dar as respostas e o devido tratamento a essas máfias. Por Marielle e Anderson. Pela democracia do Brasil.

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