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O que a Folha pensa

Apagão da ditadura

Ante protestos populares inauditos, Cuba recorre à repressão e corte da internet

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Protesto contra o regime cubano em Havana - Yamil Lage/AFP

Havia muito não se registrava em Cuba algo parecido. No domingo (11), as ruas de Havana e de diversas outras localidades da ilha foram tomadas por gritos de “liberdade” e “abaixo a ditadura”, nas maiores manifestações populares desde o começo dos anos 1990, quando o fim da União Soviética levou a economia local à bancarrota.

O motivo da raiva dos cubanos também é parecido com o de décadas atrás. Protestam sobretudo contra as condições de vida precárias e a dramática escassez de produtos, ambas agravadas neste período de pandemia.

Iniciadas no pequeno município de San Antonio de los Baños, onde centenas de pessoas saíram exigindo vacinas para a Covid-19 e protestando contra os longos apagões de eletricidade, as manifestações transmutaram-se em demandas por liberdade e ataques ao regime.

Enquanto os atos se espalhavam pelo país, o presidente Miguel Díaz-Canel apressou-se a ir à televisão culpar os inimigos de sempre: o embargo econômico e os Estados Unidos, que estariam fomentando a revolta popular.

Se é verdade que o anacrônico bloqueio econômico e financeiro estabelecido na Guerra Fria contribui para as dificuldades de Cuba, também é fato que, desde então, tem servido às autoridades da ilha para justificar todas as desgraças produzidas por décadas de fracassado planejamento estatal.

Historicamente frágil, a economia cubana soçobrou com o advento da pandemia. O Produto Interno Bruto do país encolheu impressionantes 11% no ano passado, muito em razão do colapso do setor de turismo, uma das principais fontes de renda da população.

Minguaram as remessas de dólares enviadas por cubanos radicados no exterior para suas famílias. Escassearam alimentos e remédios.

Não bastasse a calamidade econômica, a população sofre com o recrudescimento da pandemia. O país registrou nos últimos dias recordes de casos e mortes.

Previsivelmente, a ditadura agiu para sufocar a multidão dissonante. Díaz-Canel convocou “os revolucionários” do país a combater os manifestantes —muitos dos quais foram presos— e promoveu um grotesco corte da internet.

Também na incapacidade de aprender do regime, bem como de seus apoiadores na esquerda brasileira e mundial, os eventos de agora se parecem com os do passado.

editoriais@grupofolha.com.br

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