Ao reforçar seus laços com o centrão, o grupo político que dá as cartas no Congresso Nacional, o presidente Jair Bolsonaro dobrou a aposta feita no ano passado para garantir sua sobrevivência no cargo até as próximas eleições.
Ele confirmou nesta quinta (22) a escolha do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para chefiar a Casa Civil, entregando o coração de seu governo a um dos próceres do bloco partidário que até outro dia repudiava.
O atual ocupante do cargo, Luiz Eduardo Ramos, general da reserva que é amigo do presidente desde a academia militar, será transferido para a Secretaria-Geral da Presidência, posição figurativa hoje.
Para dar novo abrigo ao chefe da pasta, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), o mandatário pretende recriar o Ministério do Trabalho, cujas funções estão sob controle do ministro da Economia, Paulo Guedes, desde o início do governo.
A dança das cadeiras ocorre num momento delicado, em que Bolsonaro vê sua popularidade em queda e se encontra acossado por opositores em várias frentes —das manifestações pelo impeachment às investigações sobre sua negligência durante a pandemia.
Não surpreende que o mandatário corra em busca de proteção e se disponha a pagar caro por ela, alijando antigos aliados e mexendo até em áreas que prometera manter longe das barganhas políticas.
Bolsonaro parece até despreocupado com o custo crescente das demandas dos aliados, e Paulo Guedes dá corda a seu entusiasmo ao acenar com a liberação do dinheiro obtido com o inesperado aumento da arrecadação tributária nos últimos meses.
A aliança com o presidente deu ao centrão maior controle sobre a distribuição de cargos na máquina federal e verbas destinadas a projetos paroquiais, recursos cobiçados pelos congressistas que buscarão a reeleição no ano que vem.
Líderes do bloco partidário como o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), parecem confiar em sua capacidade de assegurar estabilidade às instituições democráticas e conter os instintos autoritários de Bolsonaro.
O presidente não para de investir no descrédito do processo eleitoral, como voltou a fazer nesta quinta ao repetir suas lorotas sobre as urnas eletrônicas, endossadas no mesmo dia pela inapropriada manifestação de seu ministro da Defesa, o general Walter Braga Netto.
Bolsonaro e militares que aderiram a seu projeto de poder sentem-se à vontade para continuar desafiando a Constituição à luz do dia com suas bravatas. Estar associado a tais condutas degradantes é um dos riscos que o centrão também corre enquanto extrai os benefícios de sua aliança de ocasião com o mandatário.
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