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O que a Folha pensa CPI da Covid

Batalha inglória

Defesa reage de forma desproporcional a senador, evidenciando aparelhamento

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O ministro da Defesa, general Braga Netto - Pedro Ladeira/Folhapress

Quando candidato, o então deputado Jair Bolsonaro era um vocal crítico do aparelhamento de órgãos do Estado por militantes esquerdistas nos anos do PT no poder.

Uma vez no Planalto, Bolsonaro patrocinou sua versão do aparelhamento, com uma invasão de fardados ao alto escalão da Esplanada dos Ministérios, com o devido efeito cascata pelo governo.

Os militares, por desígnio ou mera oportunidade, voltaram a ser uma casta poderosa e politicamente influente. Não é um processo sem riscos, obviamente.

Isso ficou claro no episódio em que o presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), queixou-se do “lado podre” das Forças Armadas, ao citar a prevalência de militares no alvo da apuração de irregularidades no Ministério da Saúde.

O senador foi precipitado ao usar um termo pejorativo associado aos milicianos que rondam o clã Bolsonaro —não passou despercebido.

Mas não tirou nada da cabeça. Nas investigações sobre a compra da vacina indiana Covaxin e no cipoal referente à suposta cobrança de propina por imunizantes inexistentes, saltam aos olhos as patentes envolvidas: são três coronéis da reserva e um tenente-coronel da ativa do Exército, além de um sargento reformado da Aeronáutica.

Todos operando no ambiente então comandado por um general da ativa, o nada saudoso Eduardo Pazuello, aliás aboletado em um cargo no Planalto —assim como um dos coronéis investigados, o seu ex-número 2 Elcio Franco.

Ainda faltam muitos elementos probatórios, mas os indícios que surgiram até aqui nos casos e a reação do governo ao demitir envolvidos sugerem que algo está errado.

Se Aziz generalizou sobre um universo de 360 mil pessoas, a maioria absoluta certamente proba, a reação fardada foi exagerada e sintomática da dificuldade em lidar com o fato de que a opção de associação com Bolsonaro tem preço.

A resposta do Ministério da Defesa, subscrita pelos três comandantes militares, flerta com o autoritarismo bolsonarista: arroga aos fardados tutela sobre a liberdade civil e busca admoestar o Senado.

É peça retórica vazia, espera-se, dado que a opção será acreditar que generais estão dispostos a invadir o Congresso. A reação de Aziz ante a intimidação foi contemporizada num encontro do ministro da Defesa com o presidente do Senado, e parece que a crise amainou.

A lição que fica é que a crispação das relações civil-militares no país sob o cada dia mais acuado Bolsonaro —que sequestrou uma insatisfação pontual e transformou-a em aríete em frente ao edifício democrático— é um tema que precisará ser abordado de forma sóbria pelas Forças e pelo poder político antes que algo mais sério ocorra.

editoriais@grupofolha.com.br

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