Descrição de chapéu
O que a Folha pensa

Borba Gato em chamas

Saudável contestação a homenagens históricas precisa usar meios democráticos

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to realizado pelo Coletivo Independente Revolução Periférica derruba estátua
Fogo na estátua do bandeirante Borba Gato, em São Paulo - Gabriel Schlickmann/iShoot/Agência O Globo

No sábado (24), mais uma vez, milhares de moradores da cidade de São Paulo ocuparam a avenida Paulista para protestar contra o governo Jair Bolsonaro. A manifestação mais espalhafatosa e controversa do dia, contudo, ocorreu a quilômetros dali, reuniu pouca gente e não teve relação direta com o repúdio ao presidente.

Em Santo Amaro, bairro da zona sul, um grupo se voltou contra a estátua de Borba Gato —desembarcou de um caminhão, envolveu o monumento de cerca de 13 metros de altura com pneus e ateou fogo.

Um desconhecido movimento autodenominado Revolução Periférica assumiu a autoria do incêndio, controlado pelos bombeiros.

Não é a primeira vez que a estátua inaugurada em 1963 —um homem de botas e chapéu segurando uma espingarda— se vê alvo de ataques e vandalismos.

Tais atos inserem-se num movimento mais amplo que, em diversos países, busca questionar homenagens públicas a figuras historicamente polêmicas.

Embora não seja novo, o debate tornou-se mais acalorado recentemente, na esteira dos protestos antirracistas desencadeados pela morte do americano George Floyd, assassinado por um policial branco no ano passado.

Desde então, cidades nos EUA e no Reino Unido removeram estátuas que celebravam personagens associados à escravidão. O mesmo ocorreu na Bélgica, com monumentos em homenagem ao rei Leopoldo 2º, responsável por atrocidades na África.

Borba Gato, que viveu entre os séculos 17 e 18, foi um daqueles homens que receberiam o epíteto de bandeirantes, conhecidos pela exploração do território luso-brasileiro, pela escravização de indígenas e pelo apresamento de escravos negros fugitivos.

Contestar homenagens a figuras de trajetória condenável, porém, de forma nenhuma justifica a depredação de monumentos e do patrimônio público.

Discussões dessa natureza, que são saudáveis numa sociedade aberta, devem ocorrer pela via democrática, no âmbito dos parlamentos locais —que podem decidir, por exemplo, pelo envio de estátuas a museus ou pela construção de monumentos concorrentes.

editoriais@grupofolha.com.br

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