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Caminho estreito

Candidaturas que se formam para 2022 não deveriam acalentar quimeras econômicas

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Esplanada dos Ministérios, em Brasília - Ana Volpe/Agência Senado

A economia brasileira recuperou-se, sob o ponto de vista estrito do nível de produção, do baque causado pela pandemia de coronavírus.

Em maio de 2021, o volume de atividade no índice mensal do Banco Central ficou 16% acima do que apontara em abril de 2020, auge da crise. A melhora foi acentuada até janeiro e depois a trajetória ficou mais próxima da estabilidade.

A inércia dos meses iniciais de 2021 e o impulso extra da vacinação agora acelerada devem assegurar elevação acima de 5% no PIB deste ano, segundo expectativas de mercado. Já em 2022 a atividade voltaria para a modorra das últimas décadas, com alta em torno de 2%.

Seria um despropósito, no entanto, fixar a análise em indicadores conjunturais mais otimistas e tapar os olhos para os desafios estruturais que continuarão a ameaçar a economia brasileira mesmo após a superação da debacle sanitária.

Esse é o principal alerta para as candidaturas que se formam almejando a Presidência da República em outubro do ano que vem. A melhoria tem muito de ilusória no que diz respeito aos problemas imediatos e seculares que atravancam o desenvolvimento do Brasil.

A inflação que ora beneficia a contabilidade fiscal —engordando indicadores como o PIB a preços correntes e depreciando, em termos reais, as despesas dos governos— é a mesma que esmaga os orçamentos dos mais pobres.

A valorização das mercadorias exportadas pelo Brasil representa uma bonança apenas cíclica. Quando essa curva se infletir novamente, a depauperada situação das contas públicas brasileiras voltará a ser exposta em sua inteireza.

Por isso restará exígua margem de manobra prática para quem assumir o governo federal em janeiro de 2023. Se alguém acha que poderá aplicar seu “plano Biden” por aqui, com nova expansão ubíqua de gastos, está acalentando quimeras.

Especulações livres sobre o que fazer do teto que impede o crescimento acima da inflação das despesas federais encontrarão a dura realidade do Orçamento tomado pelas destinações obrigatórias de recursos e a resistência da sociedade à elevação da carga tributária.

A volúpia de retomar os investimentos estatais topará com as limitações não só das finanças, mas sobretudo do péssimo histórico empreendedor do setor público.

Essa estreita margem de manobra, obviamente, não significa margem de manobra nenhuma.

Sustentar um diagnóstico sóbrio do Estado brasileiro, nomear quadros capazes para os postos-chave e arregimentar maiorias congressuais sólidas para mudanças legislativas necessárias tornam-se elementos fundamentais para que a travessia rumo a um futuro melhor seja retomada no novo mandato.

editoriais@grupofolha.com.br

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