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Devastação eleitoral

Desmatamento cresce na mata atlântica em anos de pleito, como na Amazônia

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Parque Nacional da Serra da Bocaina
Parque Nacional da Serra da Bocaina é uma das maiores áreas protegidas da mata atlântica, em trecho da Serra do Mar, na divisa dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. - Ju Colussi

Estudo recente mostrou que se repete na mata atlântica fenômeno já detectado na Amazônia: em anos eleitorais, cresce o desmatamento. Com o presidente antiambiental Jair Bolsonaro candidato à reeleição e seu Ministério do Meio Ambiente (MMA) à deriva, 2022 comporta risco enorme para o bioma mais habitado do país.

Cerca de três quartos da população vivem em municípios da faixa de floresta que revestia o litoral brasileiro desde a região Nordeste até o Sul e penetrava pelo interior a partir da Bahia. Sobraram só 12% de 1,3 milhão de km² da mata original, o que faz dela o bioma nacional mais ameaçado.

Felizmente a devastação arrefeceu a partir da virada do século. A taxa de corte raso saiu do patamar de 5.000 km² anuais para menos de 300 km², após 2010.

O progresso se deu em parte por reação social ao desmate, com a criação de movimentos como o SOS Mata Atlântica. Além disso, restavam poucos fragmentos com relevo, fertilidade e localização de interesse para o agronegócio.

Ainda assim, há anos em que motosserras voltam a funcionar com ímpeto renovado. Trabalho científico publicado no periódico Conservation Letters mostra que aumenta em até 40 km² a área devastada em anos eleitorais.

Foi assim no período de medição por satélite entre 2018 e 2019, anos da eleição e posse de Bolsonaro e do ministro Ricardo Salles, recém-ejetado do ministério, quando houve incremento de 27% nas derrubadas de mata atlântica.

O mesmo se observou na Amazônia. Em igual intervalo, avançou 34% a destruição da maior floresta tropical do mundo em sua porção brasileira, que se encontra em situação muito melhor (80% preservados) que a congênere costeira.

Na campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro deixou claro sua ojeriza às políticas preservacionistas que haviam derrubado as taxas de desmate na Amazônia de 27 mil km², em 2004, para menos de 5.000 km², em 2012. Só não ouviu quem não quis.

Muitos prefeitos e governadores candidatos à reeleição seguem o roteiro: relaxam fiscalização antes do pleito, para não melindrar financiadores e cabos eleitorais. Carta branca para grileiros, madeireiros, garimpeiros, fazendeiros e —no caso da mata atlântica— especuladores imobiliários avançarem sobre áreas virgens.

editoriais@grupofolha.com.br

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