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Encruzilhada afegã

Com saída americana, Taleban avança enquanto China e a Rússia se posicionam

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A U.S. soldier aboard a Chinook helicopter over Kabul, Afghanistan, on Sunday, May 2, 2021. Afghans continue fighting and dying with fleeting hopes of peace even while the Americans leave, adhering to a timeline laid out by President Biden to fully withdraw by Sept 11. (Jim Huylebroek/The New York Times)
Soldado americano sobrevoa Cabul, no Afeganistão, em helicóptero - Jim Huylebroek/The New York Times

Com a admissão de derrota tardia, quase 20 anos após George W. Bush iniciar a mais longa guerra em que os americanos já se envolveram, Joe Biden entregou o Afeganistão a seu próprio destino ao decidir retirar suas tropas do país asiático.

O anúncio feito em abril tornou-se uma saída bastante acelerada, seguida pelos aliados ocidentais de Washington, loucos para deixar o atoleiro que já dragara britânicos e soviéticos no passado.

O corolário previsível foi o avanço do Taleban, o inimigo desalojado de Cabul em 2001 por ter dado abrigo à rede terrorista que promoveu os maiores atentados já ocorridos em solo americano, em 11 de setembro daquele ano.

O grupo fundamentalista islâmico já ocupa, segundo algumas estimativas, 50% do território do país e cerca cidades importantes, como Herat, onde atacou um quartel das Nações Unidas na sexta (30).

Sem tempo para perder com considerações filosóficas acerca do real sentido da autodeterminação dos povos, discurso que atende sempre às conveniências da “realpolitik”, as potências com interesses próximos na região já trabalham com o que parece inevitável.

Ou seja, a volta do Taleban ao poder, pela força ou por algum acordo.

A China, que viu sua fronteira com o Afeganistão tomada pelos fundamentalistas, chamou uma delegação taleban para conversar. Franqueou-lhes apoio, cobrando de volta que parem de apoiar os terroristas islâmicos que operam na província de Xinjiang.

De quebra, foram aos negócios. Tendo anexado economicamente o Paquistão, o vizinho que pariu o Taleban, os chineses já prometem construir estradas afegãs.

Se o caminho for o acordo pacífico com o acossado governo do país, melhor. Se não for, tudo indica que tanto faz para Pequim.

Já a Rússia, movida pela leitura geopolítica de suas vastas fronteiras, se mostrou alarmada pela instabilidade na Ásia Central, temendo o transbordamento de uma eventual guerra civil afegã para seu aliado Tadjiquistão.

Enviou tropas para exercícios e irá reforçar sua grande base militar no país, vizinho do Afeganistão. Irã e Turquia, influentes em Cabul, também estudam seus movimentos para lidar com a nova realidade.

Para os EUA, que aplaudiram a negociação chinesa, é o melhor dos mundos: o problema é dos outros.

Já os afegãos, que viveram nas trevas talebans por cinco anos, só poderão esperar pelo pior.

editoriais@grupofolha.com.br

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