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Farra eleitoral

Sem justificativa, mundo político quer mais dinheiro público no pleito de 2022

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Sessão do Congresso para debate do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias - Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Num governo cujo chefe é ao mesmo tempo refém e patrocinador de interesses clientelistas, deterioram-se as balizas institucionais que deveriam disciplinar a gestão dos recursos públicos.

Ataques ao erário vão se acumulando sob a liderança de parlamentares do centrão, que agem com inacreditável desfaçatez em prol de seus interesses paroquiais.

Depois do fiasco no Orçamento de 2021, em que a incompetência do Executivo abriu caminho para uma farra de emendas, os congressistas atacaram novamente na votação da lei de diretrizes para peça orçamentária do próximo ano

Entre vários dispositivos reprováveis, o mais escandaloso foi a imposição de critérios que podem levar a um aumento do fundo eleitoral de R$ 1,8 bilhão para R$ 5,7 bilhões. Embora a definição de valores ainda dependa de novas votações, o sinal é inequívoco.

Reconheça-se que o financiamento de eleições é questão que desafia as democracias de todo o mundo, sem que se tenha chegado a uma solução plenamente satisfatória para garantir disputas mais limpas e justas.

No Brasil, lida-se com as consequências da decisão precipitada de proibir as doações de empresas após os esquemas de corrupção descobertos pela Lava Jato.

Deixou-se de lado a alternativa, defendida por esta Folha, de estabelecer limites nominais para a participação empresarial, de forma a evitar o peso desproporcional do poder econômico. Agora, o mundo político pretende simplesmente empurrar aos contribuintes o custo de suas campanhas milionárias.

Não se conhece justificativa razoável para que o pleito de 2022 custe mais que o de 2018 —quando o fundo teve cerca de R$ 2 bilhões, em valores corrigidos pela inflação. Nem mesmo se pode garantir que o novo montante evite a prática do caixa dois.

Outro objetivo das lideranças do centrão é ampliar o quinhão do Orçamento sob sua influência direta. Para tanto foram novamente aprovadas normas que viabilizam mais recursos para emendas parlamentares com reduzida transparência.

Deputados e senadores buscam maximizar suas chances de reeleição com verbas destinadas a seus redutos. Assim, permanecerão fundamentais para a sustentação do próximo governo. Por enquanto, vão ficando com Bolsonaro, um presidente cada vez mais fraco.

Embora não seja surpresa, é alarmante que se permitam tais ataques ao erário, com a conivência de tantos outros agentes políticos à esquerda e à direita também ávidos por dinheiro público.

editoriais@grupofolha.com.br

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