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Haiti em transe

Assassinato do presidente expõe persistente miséria econômica e institucional

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Em foto de janeiro de 2020, o presidente do Haiti, Jovenel Moise, assassinado na quarta-feira (7) - Chandan Khanna - 7.jan.20/AFP

O assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moïse, morto a tiros em sua residência na quarta-feira (7), mergulhou ainda mais a miserável nação caribenha no pântano de violência e tumulto político do qual parece nunca ter saído.

No cargo desde 2017, Moïse liderou um governo marcado por sucessivas crises e conflitos, a começar por sua conturbada ascensão.

A vitória no primeiro turno do pleito de 2015 foi questionada por opositores, para os quais o processo havia sido fraudado. A eleição terminou cancelada, um governo interino assumiu o país e uma nova votação foi convocada.

No pleito do ano seguinte, Moïse venceu novamente, mas o comparecimento às urnas não passou de ínfimos 18% do eleitorado.

Sua frágil e contestada liderança logo desembocou em crise generalizada. Protestos violentos prorromperam em 2018 após um aumento do preço dos combustíveis.

Meses depois, um escândalo de corrupção se somou às crescentes dificuldades econômicas do país mais pobre do hemisfério ocidental, e milhares foram às ruas exigir a saída do presidente.

Com o país convulsionado, a eleição legislativa de 2019 foi suspensa. Quando o mandato da maior parte dos legisladores terminou, no ano seguinte, Moïse simplesmente dissolveu o Parlamento e passou a governar por decreto.

Sem um Legislativo funcional e com o sucessor de direito tendo morrido recentemente por Covid-19, o país enfrenta agora um perigoso vácuo de poder.

A crise política dos últimos anos veio acompanhada de um ressurgimento das milícias armadas, cuja ação esteve no cerne da violência política que, em 2004, resultou numa missão de paz da ONU, comandada pelo Brasil por 13 anos.

Hoje, como há duas décadas, o Estado já não controla partes do território, incluindo áreas de Porto Príncipe. Estima-se que, apenas em junho, cerca de 8.500 pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas na capital devido a disputas entre grupos armados.

A repetição do ciclo de violência e instabilidade política mostra que inexiste saída fácil para as tribulações que consomem o Haiti.

Se neste momento a ajuda internacional parece necessária para evitar que a situação se deteriore ainda mais, o frágil saldo da missão da ONU deixa claro que, sem enfrentar o subdesenvolvimento extremo que campeia no país, nenhum resultado será duradouro.

editoriais@grupofolha.com.br

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