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Durval Lourenço Pereira

Militares da ativa devem ocupar cargos políticos em governos? Sim

Num país marcado por corrupção, a presença de militares é até desejável

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Durval Lourenço Pereira

Durval Lourenço Pereira, tenente-coronel do Exército, é mestre em operações militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército Brasileiro. Escreveu o livro “Operação Brasil” (editora Contexto)

“A farda não abafa o cidadão no peito do soldado.” A frase do general Osório resume o natural corolário do dever patriótico que leva o cidadão fardado a se interessar, tanto na paz quanto na guerra, pelos destinos de sua nação —ao invés de se conservar indiferente ou subserviente ao governo.

Osório foi promovido a marechal durante seu mandato de senador, e a mensagem tinha como alvo a corrompida elite política do Império, que não via com bons olhos o ingresso dos militares no centro do poder. Preferia tê-los longe, derramando sangue em refregas contra estrangeiros na Bacia do Prata; ou, no máximo, embrenhados na selva, à caça dos escravos fugitivos da aristocracia.

Já durante boa parte do período republicano, os militares se candidatavam e exerciam mandatos, retornando depois à caserna —roteiro análogo ao dos civis. Hoje, a Constituição proíbe a filiação política ao oficial e à praça da ativa, limitando o tempo máximo de ocupação dos cargos civis a dois anos.

A “Constituição Cidadã” inibe-os de participar da política, já que, uma vez eleitos, passam obrigatoriamente à inatividade no ato de diplomação: é o fim da carreira das armas. Na prática, serviu de vingança aos que tiveram seus projetos de poder ceifados em 1964, pois trata o militar como cidadão de segunda categoria. Para alguns legisladores, isso ainda é pouco.

Tramita na Câmara dos Deputados uma PEC destinada a vetar a presença de militares da ativa em postos da administração pública. Políticos contumazes em escarnecer as Forças Armadas —os mesmos que elegeram a “diversidade” como valor supremo— alegam ser necessário “recuperar o respeito e o prestígio dos militares, para o bem do Brasil e da nação brasileira”. Ora, os limites da hipocrisia foram ampliados.

O perfil de um oficial sênior das Forças Armadas inclui décadas de experiência no trato dos recursos da União, não raras vezes com cursos lato sensu em gestão da administração pública, gestão de pessoal, logística e mobilização e orçamento e finanças. Conhecimento, prática e conduta ilibada alçam esses profissionais a um patamar bem acima da média dos quadros de uma República acostumada a lotear cargos de confiança segundo critérios partidários.

Num país de história recente manchada por escândalos de corrupção, a presença de militares em funções públicas deveria ser até desejável. Ao contrário, prosperam ações que visam afastá-los da esfera política, rebaixando-os à condição de párias ou membros de uma casta inferior: dalits de coturnos.

O establishment fracassou em abalar o prestígio da classe fardada, mesmo após quatro décadas de massiva doutrinação ideológica da população. Ainda assim, teima em emular seus pares da época do Império, desta vez usando como subterfúgio a agenda ambientalista-globalista.

Trocou a Bacia do Prata pela Amazônia; a perseguição aos negros pela caça aos garimpeiros, madeireiros, produtores rurais e até ao mosquito da dengue. Importa reduzir as Forças Armadas à guarda pretoriana, florestal e sanitária, nos moldes do socialismo bolivariano.

Em 1894, o jornal O Paiz publicou um texto atualíssimo que exemplifica o destino reservado aos planos de apartar o cidadão fardado da vida pública:

“O Império pagou o seu erro. Pensou converter o militar em um bruto de passividade [...]. Foi tenaz no seu projeto. Perseguiu, amordaçou a vítima... Pois bem, quando se apercebeu estava ela à frente do quartel, dominada pela evolução, dando vivas à República. E a República foi feita. Eis o exemplo; a lição”.

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