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Ângela Luiza Silva Bonacci

Obcecada em comentar notícias, escrevia todos os dias para a Folha

Tomei coragem e desandei a falar com colunistas, ombudsman e escrever ao Painel do Leitor

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Ângela Luiza Silva Bonacci

Assistente social aposentada, pós-graduada em políticas públicas, é terapeuta de casal e família

Minha relação com a centenária Folha teve origem com minha mãe, que me transmitiu o gosto pela leitura de jornal.

Pode parecer jurássico, mas meu primeiro amor com o jornal começou com o Horácio, o dinossauro, nas tirinhas que Mauricio de Sousa publicava na Folhinha. Ele era uma doçura de animal pré-histórico, totalmente diferente dos monstros criados por Hollywood.

Foi também na mesma Folhinha que conheci Tia Lenita [jornalista e escritora, primeira editora do caderno infantil], que “conversava”com seus pequenos leitores como se fosse uma professora dos sonhos, uma espécie de fada madrinha.

Ângela Luiza Silva Bonacci lê a Folha em sua casa
Ângela Luiza Silva Bonacci lê a Folha em sua casa - Acervo pessoal

Tenho lembranças de minha mãe lendo a Folha em casa, após o trabalho ou afazeres domésticos. Adorava vê-la dobrar as folhas do jornal com facilidade e agilidade, o que eu só fui adquirir anos mais tarde.

Recordo-me também de sua capacidade de ler jornal num ônibus lotado (ou bonde). Os constantes solavancos não perturbavam sua concentração nem embaralhavam as letrinhas pretas minúsculas no papel pardo. Também não se incomodava com a tinta preta do jornal manchando suas mãos.

Enquanto o tempo passava, a Folha diariamente frequentava o meu trabalho. Com a inflação galopante, era imprescindível acompanhar os índices diários de atualização monetária e os reajustes mensais do salário mínimo e dos benefícios previdenciários.

A economia estava presente no nosso dia a dia. Já casada, com filhos e outras atribuições, a Folha circulava em casa. Manteve-se presente mesmo ausente em alguns momentos.

Nessa época já admirava Lourenço Diaféria, Clóvis Rossi, Cony e outros. Em meados dos anos 2000, a Folha, inovadora, colocou o endereço virtual de seus colunistas. Aí não perdi a chance...

Com medo e cheia de mesuras, comentei um artigo de Clóvis Rossi; para o meu espanto, ele respondeu gentilmente. Quase caí da cadeira, pois o considerava um ser inatingível. Pois é, Clóvis Rossi era humano, demasiadamente humano...

Daí em diante, tomei coragem e desandei a falar com outros colunistas, ombudsman e escrever ao Painel do Leitor. Com tanta exposição, outros leitores e eu acabamos sendo entrevistados pelo jornal e posamos para fotos. Foi divertido!

Ah, ia me esquecendo de falar de minha participação na plateia do Teatro Folha, durante os debates de candidatos a cargos eletivos no estado e no país. Teatro lotado, e a plateia fazendo perguntas aos convidados. Uma experiência inesquecível que a Folha me proporcionou.

Bem, vamos adiante.

A minha obsessão em comentar as notícias publicadas não se resumia a mensagens eventuais. Escrevia diariamente ao jornal. Extrapolei os níveis do bom senso e tive de refrear meus ímpetos palpiteiros. Tudo bem, Tedesco [editor do Painel do Leitor], 500 caracteres, uma vez por mês. Combinado, regra é regra.

E assim sigo. Além das notícias e dos colunistas, acompanho também os comentários dos meus colegas no Painel do Leitor. E, como disse meu confrade de painel José Aiex Neto, temos uma relação de família e admiração mútua.

Bem, se alguns detratores consideram o jornal impresso uma “velha mídia”, nós o consideramos um processo histórico recheado de histórias pessoais. As novas mídias, com seu caráter impessoal e fluido, jamais conseguirão atingir isso.

Assim como os jovens discípulos que reverenciam a sabedoria dos mestres mais velhos, os veículos de comunicação mais novos precisam de muito arroz e feijão para alcançar a excelência da centenária Folha.

Obrigada.

TENDÊNCIAS / DEBATES
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