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O que a Folha pensa

Pelado na piscina

Balbúrdia administrativa é apenas o mínimo que o vídeo com Pazuello evidencia

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Eduardo Pazuello, então ministro da Saúde, recebe negociadores de vacinas - Reprodução

“Quando fala em propina, é pelado dentro da piscina.” Foi com a particular familiaridade que gosta de exibir com terminologias do submundo que o presidente Jair Bolsonaro comentou o episódio obscuro do vídeo envolvendo o ex-ministro Eduardo Pazuello (Saúde).

Revelada na sexta (16) pela Folha, a peça mostra o general da ativa que comandou um desastre na gestão da pandemia de Covid-19 recebendo afetuosamente vendedores de vacinas contra a doença.

Na lógica presidencial, o fato de o alegre colóquio ter sido registrado inocenta a priori Pazuello. Segundo tal arrazoado, o ministro, se quisesse participar de alguma negociata, deveria procurar algum dos vários clubes à beira do lago Paranoá para agir sem registros.

Infelizmente, não é tão simples. Assim como nas traficâncias envolvendo a compra do imunizante indiano Covaxin e na rocambolesca história da oferta de 400 milhões de doses do fármaco da AstraZeneca, salta aos olhos o que parece um misto de inépcia e esperteza (no pior sentido da palavra) na gestão do vital ministério.

O vídeo, ressalte-se, não trata de propina —mas sim de uma possível compra da demonizada Coronavac, mensurada em 30 milhões de unidades, por um preço equivalente ao triplo do contratado pelo próprio Pazuello na versão formulada e envasada no Instituto Butantan, de São Paulo.

Além da discrepância, num momento em que o governo do rival João Doria (PSDB) ofertava mais vacinas de origem chinesa para a pasta, há uma dúvida: os negociantes em questão não apresentavam requisitos para tal. Vendiam vento.

Ainda que o laboratório chinês Sinovac, que tem no Butantan seu representante exclusivo no Brasil, houvesse ofertando doses por meio de atravessadores, seria de esperar algum protocolo na negociação.

Mas não. Na Saúde de Bolsonaro, quem oferece “terrenos na Lua”, como o presidente disse ocorrer em profusão em Brasília, é recebido por altas autoridades.

O episódio, que Pazuello tentou depois minimizar ao dizer que não havia negociado nada, é também mais um arranhão na imagem das Forças Armadas, enredadas como estão com os destinos do governo.

Não apenas a passagem do general pela pasta se mostrou um fiasco gerencial como uma quantidade expressiva de fardados, da ativa e da reserva, se viu na mira das investigações de desmandos da CPI da Covid no Senado.

Por mais de um motivo, é evidente a conveniência de aprovar a proposta de emenda constitucional que restringe o acesso de militares da ativa a funções civis. Trata-se de aperfeiçoamento institucional relevante para a preservação das Forças e de sua missão.

​editoriais@grupofolha.com.br

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