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Claudio Lottenberg

Tolerância zero para o racismo e o antissemitismo

Nós, judeus, não vamos permanecer inertes, observando que a história se repita

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Claudio Lottenberg

Oftalmologista, é presidente da Conib (Confederação Israelita do Brasil) e do Conselho Deliberativo da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein

Quando, daqui a 20 anos, os historiadores se debruçarem sobre a história do mundo e chegarem ao capítulo “ano 2000 a 2021”, que fatos destacarão como os mais importantes?

Os ataques ao World Trade Center e ao Pentágono em 11 de setembro de 2001, a Guerra do Iraque ou a ascensão do primeiro negro à Presidência dos Estados Unidos, a decolagem da China como potência econômica do planeta ou a pandemia de Covid-19?

Ou poderemos, quem sabe, constatar o impacto da convergência de tecnologia e de determinados acontecimentos que permitiram à Índia, à China e a tantos outros países ingressarem na cadeia global de fornecimento de serviços e produtos, deflagrando uma explosão de riqueza em suas classes médias, convertendo-as, assim, em grandes interessadas no sucesso da globalização?

Publicado pela primeira vez em 2005, o livro “O Mundo é Plano”, do premiado jornalista Thomas L. Friedman, desmistifica esse admirável novo mundo, permitindo compreender o muitas vezes desnorteante cenário global que se descortina diante dos nossos olhos.

Com sua inigualável habilidade para traduzir complexos problemas econômicos e de política externa, o colunista do The New York Times explica como se deu o achatamento do mundo na aurora do século 21; seu significado para países, empresas, comunidades e indivíduos; e como governos e sociedades podem e devem se adaptar.

Na mesma medida, as redes sociais e, num sentido mais amplo, o mundo digital apresentam papel importante na disseminação das informações, tornando-as instantâneas e transparentes, mesmo porque as fake news perdem valor rapidamente neste mesmo universo.

E entram em cena valores universais e princípios pétreos, pois o papel do intermediário, fraudador de mensagens, fica cada vez mais prejudicado.

Num passado recente, alguns tentaram maquiar uma das mais vergonhosas passagens da história da humanidade. Negacionistas do Holocausto, imbuídos de forte sentimento antissemita, tentaram criar plataformas pautados na mentira. Não conseguiram, mas deram trabalho e consumiam tempo daqueles que defendem a verdade.

No mundo atual, contudo, a transparência exige tempos mais rápidos e respostas mais claras. O secretário de Turismo de Maceió, Ricardo Santa Ritta, foi exonerado do cargo pelo prefeito um dia após a repercussão negativa de uma postagem alegando não saber que era algo proibido a exibição de símbolos nazistas.

Proibido ou não, seu gesto demonstra simpatia, e razão maior ainda para ter sido denunciado pelas redes sociais. O tema foi levantado por ele após a circulação de um vídeo de um adolescente que circulava em um shopping de Caruaru (PE) e foi expulso por usar uma braçadeira com uma suástica.

O comportamento, inaceitável por lei e por qualquer padrão civilizatório, parecia ser defendido pelo ignorante e agora ex-secretário, que viu o ato como um direito de expressão.

Momentos de tensão dentro da geopolítica são normais, mas converter manifestações em atos de antissemitismo e banalização do Holocausto não pode ser tolerado.

Nós, judeus, conhecemos isto muito bem e não vamos permanecer inertes, observando que a história se repita.

Na Europa e nos Estados Unidos, discursos de ódio e atos de antissemitismo acompanhados pelos símbolos nazistas têm aparecido cada vez mais nas ruas, quase sempre com demonstrações de violência, e alarmando governos, a sociedade civil e entidades de direitos humanos.

Apesar de minoritários, episódios racistas nas manifestações recentes de apoio ao Hamas preocuparam governos. “Não vamos tolerar a queima de bandeiras israelenses em solo alemão. Nem ataques a instalações judaicas”, declarou o ministro do Interior da Alemanha, Horst Seehofer, após relatos de atos contra sinagogas, e de faixas e cantos antissemitas em passeatas.

O Brasil cultiva como tradição não importar conflitos e tem como valores enraizados combater a discriminação e a intolerância. De nossa parte, não abriremos mão de valores que consideramos como universais, mas que particularizaremos como brasileiros: tolerância zero para o racismo e o antissemitismo.

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