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50 anos do assassinato de Raul Amaro em hospital do Exército

Parece que foi ontem; se ficarmos de braços cruzados, poderá ser amanhã

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Nesta quinta-feira (12) completam-se 50 anos do assassinato sob tortura do engenheiro Raul Amaro Nin Ferreira pela ditadura empresarial-militar. Formado na escola politécnica da PUC-RJ, Raul Amaro tinha 27 anos quando foi preso na noite de 1º de agosto de 1971, em uma blitz na rua Ipiranga, no bairro de Laranjeiras, Rio de Janeiro, quando dava carona para um casal de amigos.

Detido por agentes do DOPS-GB, foi levado ao seu apartamento em Santa Teresa, que foi completamente revirado. Os agentes encontraram, além de livros considerados “literatura subversiva”, um mimeógrafo com textos que o ligavam a grupos que faziam a luta contra a ditadura. De acordo com Mariana Lanari, sua mãe, que acompanhou a revista do lado de fora, ao sair os policiais se negaram a dizer para onde seria levado, afirmando apenas que seria “assunto da competência do Exército Nacional” (conforme publicação: "Raul Amaro Nin Ferreira: relatório", RJ: Ed. PUC-Rio, 2014 – e-book disponível no site da editora).

O engenheiro Raul Amaro Nin Ferreira, dias antes de sua morte, em 1971 - Reprodução

Raul Amaro foi levado para o DOI-Codi, que funcionava no batalhão da Polícia do Exército, na rua Barão de Mesquita, onde foi brutalmente torturado por dias seguidos, com diversas formas de espancamento, justamente num momento em que as técnicas de tortura passavam por transformações. Posteriormente, bastante seviciado e debilitado, no dia 4 de agosto foi levado ao Hospital Central do Exército (HCE). Durante o período em que esteve sob a responsabilidade do Exército brasileiro, sua mãe tentou por diversas vezes visitá-lo ou saber notícias. Em uma visita ao HCE ocorrida após a morte de Raul, ouviu do enfermeiro que seu filho lhe havia suplicado: “Tire-me deste horror, Pedro!”.

O mais chocante foi descobrir que Raul Amaro passou por, ao menos, duas sessões de torturas enquanto estava internado no HCE! Esta foi a conclusão do parecer, produzido no âmbito da Comissão Estadual da Verdade (RJ), do médico legista e professor Nelson Massini (UERJ e UFRJ), após comparar as lesões descritas no boletim de entrada no HCE com aquelas descritas no laudo de necropsia, do próprio HCE, uma semana depois, no dia 12 de agosto.

A triste memória desses acontecimentos faz pensar sobre o momento pelo qual passa o Brasil: se os militares são capazes de torturar uma pessoa enquanto ela está internada em uma instituição hospitalar, o que não seriam capazes de fazer no comando do Ministério da Saúde, durante a maior pandemia do último século, que já ceifou centenas de milhares de vidas brasileiras?

Em tempos em que violência policial, estruturalmente racista, se intensifica em número de vítimas e no grau da barbárie, a exemplo do que ocorreu recentemente no Jacarezinho, não bastasse, o fascismo tenta “sair do armário” falando abertamente na volta da ditadura militar. Como disse esses dias um amigo de Raul Amaro sobre os 50 anos de sua morte: “parece que foi ontem!”; ao que o irmão, Rodrigo, respondeu: “Parece que foi hoje...”. Se ficarmos de braços cruzados, poderá ser amanhã.

Tortura nunca mais!

Rodrigo Nin Ferreira
Analista de sistemas aposentado (irmão)

Fábio Guedes Nin Ferreira
Músico e professor (sobrinho)

Felipe Carvalho Nin Ferreira
Arquiteto urbanista (sobrinho)

Raul Carvalho Nin Ferreira
Defensor público (sobrinho)

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