Descrição de chapéu
Chico Whitaker

Construir ou destruir? Recado respeitoso ao STF

Na contramão do mundo, proposta de expansão nuclear deve ser barrada

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Chico Whitaker

Arquiteto e urbanista e consultor da Comissão Brasileira de Justiça e Paz

O Conselheiro Acácio nos faz sorrir com suas verdades. Outras nos fazem chorar, como a que diz que destruir é mais fácil que construir. É o que estamos vivendo, desde que um cidadão com mente seguramente doentia foi alçado à Presidência da República. Há quem ganhe com isso, mas não se imaginava a desgraça embutida na sua frase “minha missão é destruir”, feita na embaixada do Brasil em Washington, logo depois de sua posse.

Logo em seguida começaram a desmoronar os avanços civilizatórios desde que recuperamos a democracia. E sua ação se tornou claramente criminosa com a pandemia. Suas ações e omissões respondem seguramente por mais de metade dos nossos lutos.

Insiste em recusar orientações internacionais de luta contra a pandemia, bem-sucedidas em todo o mundo. Usa seu poder de comunicação, como oresidente, para aconselhar remédios que matam. Vem negando a necessidade do uso de máscaras para combater o vírus.

Sua máquina ataca numa guerra-relâmpago, como fazia Hitler por territórios. Mal nos aprumamos de uma investida destruidora, vem nova saraivada. Destrói até bens que são de toda a humanidade, como a Amazônia, essencial na batalha contra a extinção da nossa espécie.

E conseguiu alistar no seu bando oportunista até o procurador-geral da República, Augusto Aras. Este poderá, infelizmente, ser reconduzido ao cargo pelo Senado. Mas não defende os interesses difusos da sociedade, como deveria, ao não dar seguimento a representações para que denuncie ao Supremo Tribunal Federal os crimes do presidente na pandemia e outros. E há pouco entrou na área do nuclear, pouco conhecida da quase totalidade da população —e até de integrantes dos Poderes da República.

De fato, num país dolorosamente marcado pela falta de cultura de segurança, nem todos sabem quão perigosas são as usinas nucleares —ou, pejorativamente, as “chaleiras radioativas”. Esquecemos as catástrofes de Chernobyl e Fukushima, raras, mas possíveis, quando seus reatores derretem e explodem. Essas tragédias só começam a acontecer nesses acidentes: prolongam-se por muitas gerações —contra a radioatividade, que dura milhões de anos, não há vacina. E o acidente de Goiânia em 1987? Nele escaparam de um aparelho de radioterapia abandonado somente 19 gramas de césio-137. Mataram logo quatro pessoas e depois mais de cem. Tinham o “brilho da morte”, como disse uma de suas vítimas. Ora, criado às toneladas pelos reatores das usinas, em explosões ele se espalha.

Os alemães são mais inteligentes, ou simplesmente mais informados? Depois de Fukushima, decidiram fechar seus 23 reatores. No fim de 2022 não terão mais nenhuma central nuclear. E vão mais longe: em 2035, nenhuma central a carvão, que aumenta o aquecimento global. Outros países a imitam.

Aqui, pretende-se prolongar por mais 20 anos a vida das “chaleiras” de Angra, construir uma terceira, com um projeto obsoleto de 1976, e mais seis à beira do rio São Francisco! Nossas “autoridades” do setor, em sua maior parte militares, querem é construir a bomba atômica brasileira. Usinas são o caminho —por isso mesmo controladas pela Agência Internacional de Energia Atômica, para que bombas não se proliferem. E um de seus subprodutos é o plutônio, melhor combustível para bombas, como provado em Nagasaki...

Ora, o procurador-geral da República pediu ao STF, em perfeita consonância com um governo do qual não faz parte, mas protege, que declare inconstitucionais sábios artigos de Constituintes estaduais de estados como o de Pernambuco, que proíbem usinas nucleares enquanto não se esgotarem todas as outras fontes de energia elétrica. Como se previssem o desenvolvimento da produção de eletricidade com o sol e o vento, mais do que abundantes no Nordeste.

Os senhores ministros e ministras do STF acreditariam na propaganda enganosa do “negócio” nuclear —com o mito dessa opção como a mais barata, mais limpa e mais segura de produzir eletricidade? Regras jurídicas bastariam para desproteger o Brasil da ameaça de que o mundo está se livrando, com o crescente abandono do nuclear?

É mais uma ofensiva inesperada da guerra que se trava no Brasil contra todos nós. Teríamos que pedir a Deus, como se faz em situações de desespero, “tenha piedade de nós”?

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.​​

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.