Descrição de chapéu
O que a Folha pensa

Desfecho inglório

Aposta de Biden é de que danos à imagem na saída do Afeganistão serão absorvidos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Cargueiro C-17 americano deixa o aeroporto de Cabul nesta segunda, dia do fim da ocupação - Aamir Qureshi/AFP

A mais longa guerra já travada pela maior potência militar da história acabou oficialmente nesta segunda (30), quando o último avião de transporte americano deixou Cabul com as forças remanescentes da caótica retirada após duas décadas de presença no país asiático.

O quanto as imagens de caos e desespero na pista do aeroporto da capital afegã, os mortos estrangeiros e americanos no grande atentado da quinta (26) e a humilhação de mais uma derrota pesarão para Joe Biden é incerto.

Evidente no momento é o fim da lua de mel entre o presidente e o eleitorado que se cansou de Donald Trump em novembro de 2020, como a queda da popularidade do democrata para o pior nível desde sua posse atesta.

O desempenho do presidente, que se amparava no aferível fastio americano ante uma guerra insolúvel, mostrou-se desastrado durante toda a crise terminal afegã.

Primeiro, acelerou a saída confiando que as Forças Armadas de Cabul segurariam o Talibã ao menos por algum tempo. A ofensiva final dos fundamentalistas engoliu o país em duas semanas.

Depois, conduziu uma retirada complexa sem um plano coerente em mãos, gerando uma crise humanitária instantânea. Para piorar, revelou a inexistência de empatia em seus comentários sobre o desenrolar da crise.

Na semana passada, ainda viu quase 200 pessoas morrerem pelas mãos de um inimigo do qual poucos haviam ouvido falar. E 13 delas voltaram aos EUA em caixões enrolados em bandeiras.

Como se não bastasse, Biden tem sua retórica triunfalista sobre a Covid-19 desafiada pelo avanço da variante delta e, numa sinistra coincidência, precisa lidar com um furacão em Louisiana —a mancha da crise do Katrina em 2005 para o homem que começou a guerra ora finda, George W. Bush, foi indelével.

Seus rivais republicanos afiam as facas, de olho nas eleições congressuais do ano que vem. Limitados conceitualmente, já que a retirada afegã foi arquitetada por Trump, deverão focar o aspecto de competência gerencial.

O democrata parece disposto a pagar a aposta, cioso da curta extensão da memória do eleitorado e colocando mais peso no apoio que a retirada galvanizou.

Os EUA de 2021 não estão lidando com um trauma nacional da magnitude da derrota no Vietnã, em 1975. A velocidade da sociedade interconectada e o cinismo de quem se acostumou a perder guerras sem ameaças existenciais consequentes fazem o resto.

Pode dar certo para Biden, a depender da eficácia dos oponentes em denunciá-lo ao eleitorado pendular que define pleitos. Ou poderá ser, na pior hipótese, a sua Saigon.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.