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Escândalo democrata

Renúncia de governador de NY acusado de assédio pode oxigenar partido e política

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Andrew Cuomo, que renunciou ao posto de governador de Nova York - Mary Altaffer/Reuters

O democrata Andrew Cuomo tentou evitar a renúncia, mas não resistiu diante da proporção que tomaram os escândalos em sua administração como governador do estado de Nova York.

Entre as polêmicas que o atingiram, as mais ruidosas foram as acusações de assédio sexual por parte de 11 mulheres, reforçadas por um relatório encomendado pela procuradora-geral Letitia James a investigadores independentes.

As denúncias mais graves referem-se a beijos e toques não consentidos; outras funcionárias relatam que comentários sugestivos ou perguntas do político sobre assuntos sexuais criavam um ambiente de trabalho tóxico.

Cuomo nega os avanços inapropriados e afirma que não tinha intenção de assediar com seus comentários. Beira o ridículo sua afirmação, pós-#MeToo, de que pensava não ter cruzado nenhuma linha —as linhas teriam sido redesenhadas, segundo suas palavras.

É como se no passado as mulheres tomassem parte com prazer nesse tipo de relação imposta por um homem poderoso, em vez de simplesmente tolerá-la para não verem destruídas suas carreiras.

Cuomo talvez tenha imaginado que suas credenciais democratas o protegeriam das acusações. Ainda que pressionado por correligionários à esquerda, o agora ex-governador viabilizou realizações importantes como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a legalização da maconha e o aumento do salário mínimo.

Durante a pandemia foi elogiado por suas políticas sanitárias, enquanto o presidente republicano Donald Trump seguia o roteiro do negacionismo. Quase diariamente era entrevistado ao vivo na CNN por seu irmão Chris Cuomo, divulgando os feitos de sua gestão.

Entretanto acusações de que seu governo teria ocultado mortes em asilos e desviado testes para familiares macularam seu legado.

De família de políticos, Cuomo administrou de forma impetuosa, sem grande diálogo com o Legislativo estadual. Sua saída, após mais de uma década, abre espaço a maior diversidade de candidatos ao posto, a começar pela vice, que assume no dia 24, Kathy Hochul.

Também estão cotados a própria procuradora Letitia James, mulher e negra, o prefeito de Nova York, Bill DeBlasio, e o defensor público negro Jumaane D. Williams. Em qualquer hipótese, o caso parece contribuir para a oxigenação do partido e da política americana.

​editoriais@grupofolha.com.br

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