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Madrugada de terror

Ineficiência policial e oferta de armas favorecem assaltos como o de Araçatuba

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Moradores de Araçatuba são feitos reféns em Araçatuba (SP) - Reprodução/@paulodavid1999 no Twitter

Enquanto o país debate o perigo da politização de corporações armadas, facções criminosas não dormem em serviço. De madrugada, desta feita em Araçatuba (SP), um comboio de assaltantes pôs uma cidade interiorana sob domínio do terror sem encontrar resistência.

Imagens apavorantes atestam a ousadia de bandidos com enorme poder de fogo. Caminhões incendiados para barrar forças de segurança; reféns amarrados no teto de veículos; bombas de acionamento remoto ou por sensores espalhados pelas vias urbanas.

Saldo da incursão facinorosa: dois araçatubenses mortos a tiros, um criminoso abatido, civis gravemente feridos por disparos e bombas, duas agências bancárias explodidas e roubadas. Um município de 200 mil habitantes paralisado por dois dias, sem aulas, sem comércio, sem direito de ir e vir —sem segurança.

Onde estão as polícias, que não conseguem coibir essa modalidade crescente de delitos espetaculares? Ações parecidas se repetem pelo interior paulista ao menos desde 2018, e só neste ano houve ataques em três outros estados. A prática teve início na década de 1990 em cidades desprotegidas do Nordeste e do Norte.

O pré-requisito para tais expedições é armamento poderoso, como pistolas ou fuzis de alto calibre e explosivos. Quadrilhas são abastecidas por organizações do tráfico, que não encontram dificuldade para obter armas de todo tipo.

Aí falham de modo flagrante Polícia Civil, Polícia Militar e Polícia Federal. No âmbito estadual, à primeira corporação caberia investigar e deslindar as cadeias de fornecimento de arsenais; à PM, aperfeiçoar o setor de inteligência para detectar operações em montagem e reprimi-las a tempo.

Fracassa também a PF, peça crucial para impedir o tráfico de armas e coordenar a inteligência no plano nacional. A instituição enfrenta desafio extra com as políticas armamentistas de Jair Bolsonaro.

O relaxamento dos controles pelo governo federal, permitindo que colecionadores, atiradores e caçadores adquiram fuzis às dezenas, tem o potencial de aumentar o poder de fogo da bandidagem. Fica mais fácil e barato roubar do que contrabandear armas.

Por fim, claudica o Exército ao fiscalizar explosivos, como lhe compete. Quadrilheiros sempre conseguem obter material desviado de pedreiras e empreiteiras, se não dos próprios quartéis.

editoriais@grupofolha.com.br

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