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Não ao retrocesso

Exame do voto impresso na Câmara cria chance para rechaçar golpismo de Bolsonaro

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Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) - AFP/Marcos Correa/Presidência

Parecem ínfimas as chances de aprovação da proposta de emenda constitucional que busca reintroduzir no sistema eleitoral brasileiro o voto impresso, a ideia anacrônica patrocinada por Jair Bolsonaro e seus seguidores.

A maioria dos partidos com representação na Câmara dos Deputados é contra o retrocesso, e a propositura foi descartada na semana passada por dois terços dos integrantes da comissão especial criada para examiná-la.

Por decisão do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), o texto deverá ser submetido mesmo assim ao plenário nesta semana. Com a exigência de maioria de três quintos para aprovação, espera-se que a PEC seja mais uma vez rechaçada.

Seu objetivo nunca foi aperfeiçoar o processo eleitoral, como é evidente desde que se tornou peça central dos esforços alucinados de Bolsonaro para minar a confiança da população nas urnas eletrônicas, que há duas décadas garantem a lisura dos pleitos nacionais.

Alvo de investigações conduzidas pelo Supremo Tribunal Federal e pela Justiça Eleitoral, o presidente mente, insulta magistrados e ofende a ordem constitucional diariamente ao insistir em sua campanha infame contra as instituições.

A apresentação de uma emenda ao plenário após a derrota na comissão é incomum, ainda que o passo seja autorizado pelas normas internas, mas oferece oportunidade para que a Câmara dê uma resposta sonora à reincidência do mandatário irresponsável.

Arthur Lira tem bloqueado qualquer deliberação sobre as centenas de acusações de crimes de responsabilidade que pesam contra Bolsonaro, alegando que a abertura de um processo de impeachment a essa altura só serviria para acirrar tensões e provocar instabilidade.

Ele parece acreditar que a rejeição do voto impresso pelo plenário ajudará a frear a marcha golpista do presidente, colocando uma pedra sobre o assunto e até abrindo brecha para ajustes nos sistemas adotados para monitoramento da segurança das urnas.

Bolsonaro já deixou claro que seu plano é tumultuar as eleições e abrir caminho para contestar os resultados se perder. Ele não para de testar os limites dos que o tratam com complacência —e não parece outro o sentido do desfile militar que se anuncia para esta terça (10) na Praça dos Três Poderes.

Imitação canhestra das tentativas de intimidação que se encenavam nos estertores do regime autoritário, ela tem tudo para cair no vazio e produzir novas evidências do isolamento do chefe do Executivo. Bolsonaro pode até vestir um capacete e acenar para os fanáticos do alto de um tanque, mas é certo que o gesto não lhe dará nenhum voto a mais no plenário da Câmara.

editoriais@grupofolha.com.br

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