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O nome da crise

Ao tentar abafar manifesto empresarial, governo explicita papel de Bolsonaro

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Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes, da Economia - Pedro Ladeira/Folhapress

Movimentos atabalhoados e truculentos do governo Jair Bolsonaro precipitaram a divulgação de um manifesto organizado por associações empresariais e subscrito por mais de duas centenas delas.

Na versão que chegou aos meios de comunicação, trata-se de um pedido de entendimento entre os Poderes, em um texto tão comedido que passaria por anódino não fosse a desordem instaurada pelo chefe do Executivo —e nem mesmo há no documento atribuição de responsabilidade pela crise.

Por meio de suas intervenções, no entanto, auxiliares do presidente como o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o chefe da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, cuidaram de explicitar o sujeito oculto do conflito institucional e o objeto implícito da preocupação empresarial: as ameaças golpistas de Bolsonaro.

Além disso, tal reação acabou por levar um setor do agronegócio a publicar de modo oficial e por sua conta um apelo muito mais firme pelo diálogo, pela tolerância e pela defesa da democracia.

A iniciativa veio de associações preocupadas com a deterioração da imagem internacional do Brasil, com o ambiente e com afrontas ao Estado democrático de Direito.

Apesar de disseminar temores entre os organizadores do manifesto, que ficaram na defensiva, o governo acabou por escancarar seu isolamento —e por demonstrar que pretende calar qualquer voz que julgue contrária a seus desígnios, de resto mais uma evidência de sua crescente paranoia.

Para tanto, manipulou a condição de administrador de bancos públicos para ameaçar a Febraban e as instituições privadas.

Contou, ademais, com o auxílio de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados e líder do centrão. Lira acertou com Paulo Skaf, presidente da Fiesp e até ontem um bolsonarista integral, um adiamento, talvez “sine die”, do documento empresarial.

Tenta-se de modo autoritário e contraproducente ocultar más notícias que venham a desanimar as manifestações do 7 de Setembro, com as quais Bolsonaro busca exibir apoio popular em seu desafio ao Congresso e ao Judiciário.

Ainda que um texto formal venha a ser divulgado somente depois das manifestações bolsonaristas do Dia da Independência, ou mesmo seja deixado de lado, Bolsonaro atraiu para si mais descrédito.

Fica cada vez mais claro que o bravateiro conta apenas com o apoio de franjas radicais e minoritárias do eleitorado e da sociedade organizada; que recusa qualquer diálogo e quer sufocar a crítica, não importa o tamanho ou a origem da insatisfação social. A tentativa de abafar uma mostra de insatisfação deu-lhe visibilidade.

editoriais@grupofolha.com.br

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