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Sem trégua

Mundo político adota cautela, mas acredite quem quiser em diálogo com Bolsonaro

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O presidente Jair Bolsonaro e seu filho Flávio Bolsonaro, ao deixar a cidade de Eldorado (SP) - Eduardo Anizelli/Folhapress

Crescem as tensões em torno dos atos relacionados ao feriado do Dia da Independência, enquanto o presidente da República se mantém empenhado no conflito institucional e manifestações extremistas de seus seguidores vêm à tona.

Especialmente alarmante é o caso do coronel Aleksandro Lacerda, líder de sete batalhões da PM paulista, a fazer descarada pregação política em rede social, beirando a apologia da violência ao chamar sua audiência às ruas. “Precisamos de um tanque, não de um carrinho de sorvete”, escreveu, como noticiou O Estado de S. Paulo.

Trata-se de um policial militar de alta patente a desdenhar os limites e as responsabilidades da função —o que justifica seu afastamento imediato, determinado pelo governador João Doria (PSDB). Mais do que isso, reforçam-se os temores de politização das forças de segurança pública, entre as quais é conhecida a influência de Jair Bolsonaro.

Outros riscos parecem menos evidentes, mas não deixam de merecer atenção. Na sexta-feira (20), a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços de apoiadores do presidente, dos quais os mais célebres eram o deputado Otoni de Paula (PSC-RJ) e o músico Sérgio Reis.

Este fizera ameaças ao Supremo Tribunal Federal em uma reunião privada, e sua fala acabou por vir a público. “Se em 30 dias não tirarem os caras, nós vamos invadir, quebrar tudo e tirar os caras na marra.”

Decerto é difícil precisar se uma declaração assim constitui mera bravata impensada —uma boçalidade protegida pela liberdade de expressão— ou se representa de fato uma incitação. Com ruralistas e caminhoneiros, o cantor planejava um ato em apoio a Bolsonaro e à bandeira do voto impresso.

Cumpre notar que a ação da PF foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, alvo de um pedido de impeachment apresentado pelo presidente, e pedida pela Procuradoria-Geral da República —numa exceção à costumeira complacência da instituição durante o mandato de Augusto Aras.

Já o mundo político ainda hesita em uma resposta mais dura aos arreganhos bolsonaristas. Não está claro, até aqui, como o Senado deliberará sobre a indicação de André Mendonça ao Supremo; o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), indicou que pretende dar nova chance a um encontro entre os chefes dos Poderes.

Reunidos nesta segunda (23), os governadores também preferiram uma atitude acomodatícia, defendendo o entendimento entre as cúpulas de Executivo, Legislativo e Judiciário para superar a crise.

Percebem-se a cautela e a preocupação em não acirrar ainda mais os ânimos, mas acredite quem quiser em diálogo com Bolsonaro.

editoriais@grupofolha.com.br

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