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Vigor democrático

Derrota do voto impresso e manifesto pró-eleições atestam repúdio a retrocesso

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Brasília, 5 de agosto de 2021. Comissão Especial PEC 135/19 Cédulas Físicas. Votação do Parecer do Relator, Filipe Barros (PSL-PR). Foto: Najara Araújo/Câmara dos Deputados
Comissão especial da Câmara que analisou a PEC do voto impresso - Najara Araújo/Câmara dos Deputados

Ainda que não se trate de decisão definitiva, é alentadora a derrota, em comissão especial da Câmara dos Deputados, da proposta de emenda constitucional que torna obrigatório o voto impresso.

No mérito, o texto rejeitado por eloquentes 23 a 11 representa um anacronismo que não deve ter lugar na Carta. O que o torna mais repulsivo, porém, é ter se convertido em cavalo de batalha da ofensiva golpista de Jair Bolsonaro, que busca desacreditar as urnas eletrônicas como pretexto para não aceitar um malogro eleitoral em 2022.

Mais que mentirosas, as insistentes alegações de fraude em eleições passadas, sem um fiapo de evidência a sustentá-las, constituem uma tentativa de sabotagem do processo de escolha popular. O mesmo fez Donald Trump, com o apoio imediato do aprendiz brasileiro, nos EUA —onde o voto é impresso.

A reação à perfídia decerto explica o placar elástico contra a PEC. À esquerda, à direita e ao centro, PT, DEM, PL, PSD, MDB, PSDB, PSB, Solidariedade, PSOL, PC do B, PV e Rede se posicionaram contra a propositura, o que no presente contexto corresponde a um endosso aos ritos democráticos do país.

O mesmo compreenderam as personalidades de setores diversos que assinaram manifesto em defesa da Justiça Eleitoral, do sistema de votação e da lisura dos pleitos. “A sociedade brasileira é garantidora da Constituição e não aceitará aventuras autoritárias. O Brasil terá eleições e seus resultados serão respeitados”, diz o documento.

Entre seus milhares de signatários tem chamado a atenção a presença de expoentes do empresariado e do mercado financeiro. O destaque se explica porque se tornou comum atribuir a tais segmentos, numa generalização simplista, o apoio ao presidente e à agenda liberal abraçada durante a campanha e, em grau menor, no governo.

Em março, nomes da elite econômica já haviam assinado carta aberta com críticas duríssimas à gestão da pandemia e a conduta negacionista do mandatário. Agora, ao lado de subscreventes de muitos outros segmentos, perfilam-se contra arreganhos liberticidas.

Vê-se o apoio sólido à democracia no país, refletido não apenas em pesquisas de opinião —75% dos brasileiros consideram ser essa a melhor forma de governo, como apurou o Datafolha em 2020— mas em demonstrações concretas da sociedade e do mundo político.

O mais longo período de normalidade democrática de nossa história contribuiu para o amadurecimento das instituições, aí incluídos os Poderes republicanos, o Ministério Público e as Forças Armadas, ainda que nem sempre se reaja com a firmeza necessária à sanha bolsonarista. Os avanços conquistados demandam vigilância.

editoriais@grupofolha.com.br

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