Descrição de chapéu
Marcos César Alves

A privatização dos Correios é benéfica para o país? NÃO

Aumento de tarifas e piora no atendimento são consequências certas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Marcos César Alves

Vice-presidente da Adcap (Associação dos Profissionais dos Correios)

Os brasileiros têm o privilégio de contar com um serviço postal que tem regularidade, ampla abrangência, tarifas módicas e ainda é autossustentável, ou seja, não depende de verbas públicas para se manter. Em qualquer lugar do mundo, isso seria visto como uma grande conquista e não como algo a ser desmontado, como tenta fazer a governo federal.

Com o quinto maior território dentre os quase 200 países do mundo, o Brasil possibilitou que os Correios encontrassem uma fórmula de sucesso que incomoda os que defendem um Estado mínimo ou a completa eliminação deste. É uma pedra no sapato dos ultraliberais, que tentam se desfazer da estatal de qualquer jeito, para não terem contraponto às suas teses extremistas.

Ocorre que o serviço postal é público na imensa maioria dos países do mundo. Só em oito nações os correios são totalmente privatizados, como querem fazer no Brasil. E em nenhum dos 20 maiores países do mundo em extensão territorial o modelo é privado.

A natureza pública da atividade postal fica ainda mais evidenciada quando se constata que em apenas 324 dos 5.570 municípios brasileiros a operação local dos Correios produz receitas superiores aos respectivos custos. Mesmo assim, os Correios estão lá para assegurar que todos os brasileiros tenham acesso ao serviço postal próximo a seus domicílios, independentemente do volume de entregas ou da infraestrutura de transporte existente. Em milhares desses locais, apenas os Correios vão até lá, porque é caro e difícil realizar esse trabalho.

Os riscos para a população e para a própria economia são, portanto, evidentes. Aumento de tarifas e piora no atendimento são consequências certas se o projeto prosperar. A questão sobre a qual se pode refletir é apenas os quão danosos serão esses efeitos para as pessoas e para as empresas.

Num país com tantas coisas a serem arrumadas, com tantas carências, é um completo contrassenso, um verdadeiro desatino mexer dessa forma numa infraestrutura nacional que está em pleno funcionamento, dando suporte a um dos poucos setores da economia que cresce: o comércio eletrônico. Não por acaso, os Correios foram agraciados por duas vezes com o prêmio de melhor empresa de logística no ecommerce pela Abcomm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico).

O que muitos talvez não saibam é que os Correios não são um órgão público estanque, de atuação limitada, mas sim um grande e complexo ecossistema empresarial que gera, de forma sustentável e sem dependência de recursos públicos, centenas de milhares de empregos diretos e indiretos para brasileiros —que estão nos quadros próprios da empresa, nas cerca de mil agências franqueadas, nas transportadoras e nos demais fornecedores que conjugam esforços para que o serviço postal seja realizado com êxito.


E, por fim, como já confirmou e ratificou a Procuradoria-Geral da República na ADI (ação direta de inconstitucionalidade) 6.635, que discute a constitucionalidade desse movimento do governo federal, o projeto afronta a própria Constituição, que estabelece de forma muito clara que cabe à União manter o serviço postal, diferenciando o tratamento dado com relação a outras atividades enquadradas, como exploração de atividade econômica, para as quais se admite a possibilidade de se prestar os serviços por meio de concessões, permissões e autorizações. Não há, portanto, nenhuma razão para privatizar os Correios.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.