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Biden e os imigrantes

Presidente democrata emula políticas do antecessor Trump na fronteira americana

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A cavalo, agente de fronteira persegue migrantes que retornavam aos EUA após comprar comida no México - Daniel Becerril/Reuters

Eleito com a promessa de dar um tratamento mais humano à questão da imigração ilegal nos EUA, que sob Donald Trump esteve marcada por uma política de tolerância zero, o presidente Joe Biden tem mostrado até o momento mais semelhanças do que diferenças com relação ao predecessor.

Que o digam os milhares de haitianos que recentemente se amontoaram num acampamento improvisado sob a ponte que liga os Estados Unidos ao município mexicano de Ciudad Acuña.

Um grupo que tentava chegar à cidade de Del Rio, no Texas, terminou reprimido por agentes da Patrulha de Fronteira que, montados sobre cavalos, utilizaram chicotes para impedir que famílias pisassem em solo americano.

As cenas, que correram o planeta causando previsível indignação, foram classificadas por Biden como “uma vergonha para a nação”. Na tentativa de contornar a crise, o presidente democrata determinou o fim do uso da cavalaria na região e a abertura de uma investigação sobre as condutas dos agentes.

Tais condenações públicas, entretanto, não se traduziram em maior comiseração pela situação dos haitianos. Nos últimos dias, dezenas de voos repletos de migrantes partiram do Texas para o Haiti, o mais pobre país das Américas e hoje mergulhado numa crise política e humanitária.

Cerca de 3.500 pessoas já foram deportadas por avião, segundo dados da ONU. Esse grupo inclui 30 crianças brasileiras, que estavam acompanhadas dos pais haitianos, com quem fizeram a jornada do Brasil até a fronteira americana.

Para promover a rápida deportação em massa, Biden se serviu de um artifício legal estabelecido por Trump no início da pandemia, que permite que os migrantes sejam rejeitados por risco sanitário sem que nem lhes seja dada a chance de pedir asilo ou refúgio em território americano.

A decisão mereceu críticas veementes de membros do Partido Democrata e provocou a renúncia do enviado dos EUA para o Haiti, que descreveu a conduta do governo como “desumana”.

Assim, Biden encontra-se enredado no mesmo desafio que, em menor ou maior grau, acossou seus antecessores: equilibrar a legítima proteção das fronteiras com as obrigações humanitárias para com quem foge de turbulências políticas, sociais e econômicas. Até agora, o americano não tem sido bem-sucedido nessa tarefa.

editoriais@grupofolha.com.br

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