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Neto Mascellani

Cidadania é vacina no trânsito

Mais segurança nas ruas exige formação desde os bancos de salas de aula

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Neto Mascellani

Diretor-presidente do Detran.SP e presidente da Associação Nacional dos Detrans (AND)

Apesar de a pandemia de Covid-19 estar perdendo fôlego, o país ainda amarga milhares de casos de contaminação e centenas de óbitos. Em dias como segunda-feira, quando todas as perdas não são contabilizadas no fim de semana, o consórcio de veículos da imprensa costuma divulgar em torno de 250 vítimas das variantes do coronavírus.

Acredite se quiser, mas esse número macabro chega a ser inferior aos que o Infosiga (sistema de dados gerenciado pelo programa Respeito à Vida) registrou de mortos no trânsito do estado de São Paulo em noites de sábado e domingo no período de janeiro de 2019 a julho deste ano.

São 378 óbitos de condutores que perderam a vida com suspeita de embriaguez, de um total de 892 mortes. Ou seja, 42% das ocorrências. Dessas vítimas, 18% são motoristas de 18 a 24 anos. Não tem como normalizar tamanha tragédia urbana —embora esteja em curso, atualmente, a banalização da morte.

A única vacina que efetivamente salva vidas —tema desta Semana Nacional do Trânsito (18 a 25 de setembro)— chama-se cidadania. O remédio milagroso não depende de IFA (insumo farmacêutico ativo) de laboratório de multinacional para imunizar a população. É o antídoto para dar um basta nessa assustadora escalada de óbitos.

Embora a educação para o trânsito não seja uma atribuição exclusiva dos Detrans, conforme dispõem os artigos 74 e seguintes do CTB (Código de Trânsito Brasileiro), enquanto presidente do Detran e da Associação Nacional dos Detrans (AND) tenho acompanhado o empenho dos meus pares em investir em campanhas para formar o cidadão.

É um trabalho hercúleo, que visa habilitar condutores com o mínimo grau de cidadania no trânsito. O que se busca é uma formação básica, que comece nos bancos de sala de aula e transmita para as crianças a importância do respeito às leis.

Em São Paulo, o Detran.SP renovou convênios com prefeituras em duas frentes: uma, em parceria com a Fundação Mapfre, com ações educativas para reduzir os índices de sinistros de trânsito. E outra com a Fundação Volkswagen, cujo objetivo é contribuir para solucionar desafios reais de mobilidade.

Não se avança no trânsito seguro com um programa apenas e com ações isoladas. É em regime de parceria, como fazemos com a Polícia Militar há 30 anos com o premiado Clube do Bem-te-vi, que começa a formar condutores responsáveis a partir do ensino fundamental.

São Paulo só registrou uma queda de 32% nos óbitos em sinistros de trânsito na Década de Ação para Segurança no Trânsito (2010-2020) graças às ações do Respeito à Vida, que tem merecido toda a atenção do governo paulista.

Os convênios com 304 municípios geraram mais de 10 mil projetos para melhorias viárias, além de iniciativas de educação e fiscalização, sendo 5.000 concluídas. Foram investidos mais de R$ 114 milhões. A meta para 2022 é repassar mais R$ 500 milhões.

O tratamento para um trânsito ainda doente passa por educação e investimento, mas também por capacitação, sinalização e cidadania. Temos avançado, mas ainda há um longo e sinuoso caminho a percorrer até a cura.

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